George Jardel

Fiz a minha formação no Vasco da Gama, desde os infantis até aos seniores, e quando cheguei a Portugal senti o impacto de ser irmão do Jardel. Ele já tinha um nome muito forte e comecei a ouvir aquelas coisas: “se calhar joga porque é irmão do Jardel.” Mas quem me conhecia sabia como é que eu era, o meu valor. O Ronaldinho quando começou tinha o mesmo com o Assis, depois com o tempo é que fez a história dele. Mas isso é normal, carrega-se sempre esse peso do nome, não tem como fugir.
A propósito, quando fui para a pré-época do Benfica na Suíça, um jornalista fez-me uma pergunta e chamou-me Jardel. Eu respondi:
– Ó Maria, não entendi bem a sua pergunta.
E ele:
– O meu nome não é Maria.
– O meu nome também não é Jardel.
Disse aquilo para ele perceber que estava ali e não era por causa do nome do meu irmão, tentei colocá-lo no lugar dele. O meu nome não é esse, devia ter dito o meu nome próprio.
A minha passagem pelo Benfica foi muito curta, o plantel já estava fechado e fui logo emprestado ao Alverca. Aí tive uma situação engraçada com o Couceiro. O ataque era o Vargas e o Cajú e houve uma altura em que o Vargas estava machucado e o Cajú tinha visto cinco amarelos. Estava treinando bem, estava super bem, e pensei: “surgiu a minha oportunidade. Vamos jogar contra o último colocado. Vou entrar agora e não saio mais. Vou fazer um bom jogo e não tem como me tirar.” Quando chega o dia da convocatória nem fui chamado! O Couceiro disse que me ia poupar por causa do jogo da Taça. Disse-lhe:
– Você deve estar a brincar comigo, não sou nenhum palhaço! Se você não conta comigo me diga que vou para a equipa B do Benfica. Para ficar treinando aqui prefiro estar lá. Não sou nenhum moleque.
E ele disse que não era isso, que era um bom profissional e tal.
Também tive uma situação invulgar na China. Fui para jogar no Nanjing. Cheguei lá e fiquei dez horas no aeroporto de Pequim e o empresário que me ia buscar sem aparecer. Era meio-dia e liguei para o meu empresário daqui. Ele não atendia e já estava a ficar maluco, não conhecia lá nada e os chineses não gostam de falar inglês. Sentia-me meio perdido e só depois é que me lembrei do fuso horário. Depois de 14 horas no aeroporto finalmente falei com o empresário daqui, já era de manhã em Portugal. Peguei outro avião de Pequim para Shangai, mais umas quatro horas, depois mais umas duas horas de carro para Nanjing. Pensava que nunca mais ia chegar. No dia em que cheguei, três horas depois fui treinar porque eles queriam ver-me. Fiz um ou dois treinos, não me aguentava nas pernas e os gajos disseram que não gostaram de mim. Fogo, nem me aguentava de pé! Nem fiquei lá uma semana, vim-me embora. Não deu certo. Disseram-me que era uma coisa, depois já era outra.
Vim muito novo para Portugal, não devia ter vindo naquela altura. Estava a jogar nos seniores do Vasco da Gama, um bom clube, no meio de feras, como o Edmundo e o Juninho Pernambucano.
Quando era infantil, tinha colegas que saíam no campo correndo com um lençol branco e diziam que eram o fantasma do almirante, do Vasco da Gama. E nós fugíamos com medo! Morei no lar dos jogadores durante cinco anos, estava um bocado farto e sentia que tinha de fazer alguma coisa. Foi mais a situação do meu pai ter falecido, queria sair de lá. Se tivesse alguém para me orientar, quem o fazia era o meu pai, tinha ficado no Vasco. Até para ganhar mais nome no Vasco e sair mais por cima. Vim para o FC Porto, um bom clube e com contrato sénior, mas devia ter vindo mais tarde, com outro estatuto e sem depender tanto do meu irmão. O nome dele pesa. Por um lado ajudava, mas por outro também atrapalhava muito porque há muita inveja.


Chegou ao FC Porto com 18 anos, quando já jogava pelos seniores do Vasco da Gama. A carreira em Portugal ficou muito ligada ao irmão, Mário Jardel, e terminou em 2010, no Montalegre. Facebooktwitterlinkedinmail

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Um comentário sobre “George Jardel

  1. Grande George merecias melhor sorte para alem de um grande jogador és um Homem, amigo do amigo.

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