Serve este Relato para pedir desculpas públicas por um fenómeno que se tornou viral e que receio bem ter sido eu a iniciá-lo. Estou a falar de ouvir o relato de um jogo através da rádio, enquanto vemos jogos de futebol na esplanada, o que nos coloca num futuro de cerca de 45 segundos a um minuto à frente de toda a gente à nossa volta.
Estamos em 2011 na célebre final da Liga Europa que opôs o Sporting de Braga ao meu FC Porto. Eu chego à esplanada, onde combinei com amigos ver o jogo, com algum atraso. Por essa razão, vinha a ouvir o jogo através do rádio do telemóvel e assim me mantive o resto do tempo. Retirei um dos auriculares do ouvido para acompanhar a conversa e mantive o outro uma vez que a televisão não projectava som.
O FC Porto realizava uma época de sonho (deixou o segundo classificado da liga a 21 pontos, a maior distância registada até hoje). Todos estavam a jogar num nível altíssimo, até Fredy Guarín (colombiano que no ano anterior tinha feito uma época miserável, algo raro no Porto de então e comum no Porto de hoje). O SC Braga também tinha jogadores muito bons, do qual destaco Mossoró, não só pela qualidade, mas pelo facto de nunca mais ter existido um jogador chamado Mossoró em Portugal, o que é pena pois com um nome como Mossoró nós nunca sabemos se o jogador vai driblar o adversário ou convidá-lo a formar uma dupla sertaneja e isso, quer queiramos quer não, acrescenta valor ao futebol português. Os treinadores eram André Villas Boas que desde então tem tido alguns altos e baixos (sendo que os altos são os salários que aufere e baixos os clubes que treina) e Domingos Paciência que actualmente não se encontra a treinar pois já deve ter sido despedido de todos os clubes do mundo e é preciso dar tempo até que eles se esqueçam e o voltem a contratar.
Anyway, aproximava-se o intervalo do jogo. O equilíbrio reinava, tanto mais não fosse porque nenhuma das equipas queria perder um jogo desta importância. Logo, a esplanada estava tranquila e eu também. Mas depressa chegou o minuto 43. O Braga tinha o esférico na sua posse. Alberto Rodriguez (central braguista) entra no meio-campo portista e é apertado por Silvestre Varela – grande glória do FC Porto, entretanto já falecido – que o faz perder a bola. Esta sobra para Fredy Guarín que penetra no meio-campo do Braga pelo flanco direito, junto à linha. Erro crasso da equipa bracarense. Se há coisa que não deviam permitir, é que um jogador colombiano jogue junto a uma linha branca. Estão no seu habitat natural. Guarín chega perto da área e faz um compasso de espera aguardando que alguém entre para receber. Chega Falcao, avançado que se fosse preciso fazia golos até do banco, mas que hoje em dia quase não sai de lá. Guarín centra para a área onde encontra o avançado colombiano que num voo de fazer inveja a uma ave de rapina com uma deficiência na asa, cabeceia para dentro da baliza! Foi golo! De repente, toda a esplanada se levanta de braços no ar, a gritar golo! O ambiente é de delírio e felicidade! As pessoas abraçam-se e gritam o nome de Falcao!
Mentira… era só eu! Na televisão ainda a bola estava na posse de Alberto Rodriguez, central do Braga e Silvestre Varela preparava-se para o apertar. A esplanada estava parada a olhar para mim num misto de espanto, medo e algum nojo. A maior parte das pessoas não sabia de quem tinha sido o golo e os outros tentavam perceber como é que eu sabia, uma vez que não se tinham apercebido que eu tinha um auricular no ouvido. E enquanto olhavam para mim, a acção desenrolava-se no ecrã e Falcao introduzia a bola na baliza. Nesse momento sim, a esplanada explodiu! Uns gritavam “golo” e outros gritavam “filho da puta” e “mete o rádio no cu!” por lhes ter estragado um momento único! Entretanto não fiquei para ver a segunda parte porque o ambiente tornou-se demasiado pesado… especialmente para mim.
Serve este testemunho para pedir desculpas às pessoas que estavam nessa esplanada e a todas as que desde então possam ter sido afectadas por um movimento que, sem querer, poderei ter ajudado a iniciar!
Stand-Up comedian, actor e guionista em diversos programas, como 5 Para a Meia Noite, conta com centenas de actuações ao vivo e integra o projecto Banheira das Vaidades com António Raminhos.
A minha tia fez me pior na final do Euro. Ela tem a mania que da azar e, como Portugal nunca mais marcava, decidiu sair da sala onde víamos o jogo e ir à varanda. Ora um palhaço qualquer na rua decidiu gritar golo e a minha tia ao ouvir entrou na sala aos gritos a dizer que tinha sido golo e a bola ainda não tinha sequer chegado ao Éder. Em 2004 foram os gregos a estragar o meu 7º aniversário (faço anos a 4 de Julho, imaginem uma criança vestida com o equipamento, de chuteiras em plena sala e com a cara toda pintada e a ouvir o meu tio insultar o Scolari de todas as maneiras… Foi um excelente aniversário, ainda para mais tendo eu começado a ligar a futebol no ano anterior e ser adepto do FC Porto, ou seja, estava habituado a ganhar tudo, não sabia o que era perder), em 2016 foi a minha tia a estragar me a nossa vingança. Ao menos este ano chorei de alegria, não como em 2004. Apenas tenho pena de o meu avô não ter estado cá para partilhar esse momento comigo, tenho a certeza que nem acreditaria, pessimista como era…
Numa barbearia que frequentei durante algum tempo, entre 1998 e 2001 sobretudo, havia uma televisão muda num cantinho e por baixo um rádio em alto e bom som. Isso já é uma moda velha.
Já desde há vários anos que existe sempre nos cafés da minha zona um velho “mete-nojo” ao fundo da sala que ainda a bola não passou o meio campo já ele está a gritar golo, ou penalty, e o resto da malta a pensar ” e se metesses o rádio no ####”
Para além disso também temos o problema de se estiveres num sitio com dois cafés ou esplanadas lado a lado e um tiver NOS e o o outro MEO, os gajos da NOS vêm sempre o golo primeiro.
Por isso não fiques com remorsos. Essa já é uma tradução antiga.