Fui jogar para a Coreia, para o Daejon Citizen, em 2001. Após mais ou menos um mês de testes no clube, regressei a Portugal e fui contratado duas semanas mais tarde. Cheguei à Coreia, assinei contrato e tive um prémio de assinatura. Entretanto comecei os treinos normalmente. Éramos dois estrangeiros, eu e o Coly, um senegalês que tinha vindo para Portugal, para o Vitória de Setúbal, mas que acabou por assinar pelo Daejon. Ao fim de três dias de treinos apareceu no campo um jovem alto, com pinta de jogador, vestido à civil. Achei estranho e perguntei ao Coly quem era. Respondeu-me que era um jogador do plantel, mas que já não treinava há uma semana e que, aparentemente, tinha sido castigado pelo clube.
Iniciámos o treino e o mister dizia sempre algumas palavras em coreano. O jovem dirigiu-se a nós e o treinador, num tom agressivo, mandou-o para a bancada. Concluímos o treino e tínhamos sempre o mesmo ritual: juntávamo-nos no meio, o capitão falava e seguíamos para o duche. Nesse dia foi tudo diferente. Reunimos no meio e vejo um dos adjuntos vir do autocarro com um taco de basebol. Eu e o Coly olhámos um para o outro e estranhámos a situação. No mesmo momento, o jovem desce da bancada e junta-se a nós. Começa por levar um raspanete do treinador principal (obviamente não percebi nada do que ele dizia) e, de repente, o adjunto aproxima-se e dá-lhe uma bastonada na zona das costas/rabo. Fiquei branco como a cal, tal como o Coly! À segunda bastonada, um dos adjuntos veio ao pé de nós e disse: “Shimao (era assim que pronunciavam o meu nome), Coly… go bus”. E regressámos ao autocarro que nos transportava do centro de estágio até ao campo. Foi algo inesquecível e que nunca tinha visto na minha vida. Para ser sincero, nunca soube a quantidade de bastonadas que ele levou. Dois dias depois, regressou aos treinos e integrou o plantel. Mais tarde, explicaram-me que tinha sido apanhado na noite pela terceira vez. Após multas em dinheiro nas duas primeiras, a terceira foi com métodos coreanos.
Claro que após este episódio liguei à minha mulher e disse-lhe “não faças as malas ainda que se o prémio de assinatura não entrar na conta não continuo aqui”. Felizmente, o dinheiro chegou, comecei a compreender os costumes e tive um ano maravilhoso, acompanhado pela minha mulher e filhota, e fomos muito felizes na Coreia.
Foi o melhor marcador do Seixal e do Sintrense, em 1997 e 2000, e subiu de divisão com Seixal e Santa Clara. Venceu a FA Cup na Coreia do Sul e conta ainda com passagens por Suíça e Itália.