A primeira história reporta-se ao já longínquo ano de 1987, ao apuramento de Portugal para o Euro’88, que foi conquistado pela famosa equipa da Holanda, onde pontuavam jogadores como o Frank Rijkaard, o Ruud Gullit e o Van Basten, talvez o melhor ponta de lança finalizador de sempre do futebol europeu e mesmo mundial.
Na altura a RTP tinha os dois únicos canais em Portugal e na RTP1 davam os jogos das Selecções. E nesse dia Portugal estava a jogar em Lisboa, no Estádio da Luz, se não me falha a memória, contra a Checoslováquia, ainda não se tinha dividido em República Checa e Eslováquia. Portugal tinha perdido em Praga o primeiro jogo e estávamos empatados 1-1. Precisávamos de ganhar aquele jogo para nos apurarmos para esse Europeu, o que não veio a acontecer.
A RTP tinha um grande repórter, que fazia os relatos dos jogos na televisão, o Rui Tovar. Hoje o filho dele faz também alguns programas sobre futebol. E eu nunca me hei-de esquecer do que aconteceu mais ou menos a dez minutos do fim do jogo. Portugal estava a atacar, há uma perda de bola e eu agora passo a citar o Rui Tovar, aos microfones da RTP. O país inteiro em suspenso e ele diz isto: “Atenção, Veloso vai fazer o atraso para Bento, pode ser a intercepção do avançado da Checoslováquia, pode ser o segundo golo da Checoslováquia, é o segundo golo da Checoslováquia.” Só que o gajo estava a relatar e faz uma pausa de dez segundos, que em televisão é muito tempo. E no fim dos dez segundos a única frase que ele diz é: “Nunca se deixa um checo sem cobertura.” E eu achei aquilo dos momentos mais hilariantes de sempre do futebol português, escangalhei-me a rir no chão! Já estava basicamente a cagar para estar a perder o jogo.
A segunda história vivi-a pessoalmente. Há uns anos tinha um bar em Miragaia que era o Púcaros, onde tudo isto do humor do país enquanto stand up comedy começou, em 1998/99. E por volta dos inícios de 2000, já não sei em que ano exactamente, eu como tinha feito amizade ali com uns putos de Miragaia, conhecia as colectividades e um dia fui acompanhar, a um domingo às 11 da manhã, um jogo do Miragaia contra uma equipa ali da zona de Paços de Ferreira, mas lá em cima no meio do monte. Aquilo tinha um nome estranho, era tipo Leões Sandinenses, uma coisa assim do género, mas não era a equipa que há uns anos fez furor na Taça de Portugal. Era uma equipa dos regionais contra o Miragaia Futebol Clube.
Obviamente que nestes jogos um gajo quer é comer umas bifanas e beber umas minis, ainda por cima estava com os meus putos de Miragaia, era muito nessa base, estávamos um bocado a marimbar-nos para o jogo. Só que eu apercebi-me que havia um gajo da equipa da casa que passou o jogo todo a correr atrás do fiscal de linha, sempre a insultá-lo, fizesse ele o que fizesse. Era tipo um stalker do fiscal de linha, que estava ali apenas para o insultar. O gajo está neste exercício e de repente há um sururu no meio do campo que envolve o árbitro. Os jogadores aproximam-se todos dele, há uma série de gajos que descem da suposta bancada para também ir para perto do árbitro, mas ainda fora das linhas, e esse gajo nesse momento larga o fiscal de linha, vai à beira do árbitro e a uma distância de segurança olha e diz esta frase, que eu achei que é o insulto mais subtilmente ofensivo da história dos insultos: “Ó filho da puta, tens mais cornos do que um saco de caracóis”.
E eu pensei: “Foda-se, este gajo é simultaneamente um burgesso e um gajo de grande elevação intelectual. Conseguiu pôr na cabeça das pessoas uma imagem em que de facto os cornos abundam, acho que não há hipótese.” Isto é muito giro porque mais tarde, quando comecei a consumir mais stand up comedy, descobri uma piada do Louis CK, que é um dos grandes comediantes americanos da actualidade, em que a génese do insulto na piada é basicamente esta. É uma situação em que um gajo pára no trânsito e há um indivíduo com quem ele se chateou, que põe a cabeça de fora e diz: “Go suck a bag of dicks”. Portanto, vai chupar um saco de pirocas. Ou seja, eu sei lá as voltas que as piadas dão e como é que as merdas chegam de umas pessoas às outras. Estou agora aqui já, obviamente, a querer pôr um ónus em cima de mim, que por vias travessas um dia alguém ouviu o Rui Xará a contar esta história e ela chegou aos ouvidos do Louis CK, Isto já é a parte rocambolesca e ridícula da questão.
Começou a fazer stand up em 1998 no seu bar, o Púcaros, e nunca mais parou. Em 2016 organizou o primeiro Roast público em Portugal e recentemente foi o anfitrião de um dedicado a Álvaro Costa.
Ganda confusão na cabeça do Xará… Isso terá acontecido no Checoslováquia vs Portugal (jogo fora e não cá), qualificação para o mundial de 90.
Provavelmente os Leões da Seroa!!