Rui Dias

Depois de um dia muito cansativo a editar um filme nos estúdios Babelsberg, que ficam situados em Potsdam, nos arredores de Berlim, decido ir jantar uma sopa maravilhosa ao Monsieur Vuong, o melhor restaurante vietnamita em Berlim e para mim o melhor restaurante oriental do mundo, quando o meu telefone toca. Olho para o número e percebo pelo indicativo que não era alemão.
Atendo e uma voz do outro lado identifica-se como sendo da UEFA. Julguei ter percebido mal e peço para repetir. Voltam a dizer-me que era da UEFA e perguntam-me a minha disponibilidade para ir a Nyon no dia seguinte porque tinham uma proposta para mim. Julguei que era brincadeira dos meus colegas de Babelsberg e respondo que sim, estava disponível. Pedem o meu e-mail, que eu dou de imediato, e fazem-me mais umas perguntas. Entre elas perguntam-me se eu quereria regressar no próprio dia ou se preferia ficar uma noite em Nyon e regressar no dia seguinte. Entrei na brincadeira e disse que preferia ficar duas noites para conhecer melhor a cidade. Dizem-me ok, fazem-me mais duas ou três perguntas e desligam.
Continuo a jantar e 40 minutos depois recebo no meu e-mail bilhete de avião e reserva de hotel para duas noites. Fiquei de boca aberta, sem reacção, percebi aí que não era brincadeira. Claro que não estava disponível, tinha bastante trabalho agendado para os dias seguintes. Liguei ao meu chefe, que eu sabia que naquele momento estava com o realizador do filme, expliquei-lhes a situação e pedi-lhes dispensa para ir à Suíça na manhã seguinte.
Aterrei em Genève no dia seguinte, tinha um black Mercedes à minha espera que me levou ao hotel, tomei um duche e mudei de roupa. Voltei a entrar no carro e continuava a achar ainda tudo irreal. Trinta minutos depois chegámos a Nyon. Entrei na sede da UEFA e dizem-me que precisam de mim para fazer uns vídeos mágicos para a final da Champions League porque em Berlim andava a fazer magia e era conhecido por Houdini. Perguntam-me o que preciso para fazer magia. Peço-lhes um Avid Adrenaline (explico-lhes o que é e o custo), um cameraman exclusivo escolhido por mim e o acesso total aos jogos das eliminatórias seguintes (balneários, jogadores, estádios). A resposta foi:
– E?
– E? Pergunto eu.
– Não precisas de mais nada?
– Não, nada mais!
E foi assim que durante dois anos fui o editor da UEFA. O jogo de 2012 entre Chelsea e Bayern Munique foi a minha primeira final. Foram dois anos mágicos pelo menos para mim! Nunca esquecerei o que vivi, os locais e as pessoas que conheci.


Director Criativo, trabalhou no Real Madrid, Benfica, Sporting, Hertha Berlim, São Paulo, PSG e na UEFA. O seu projecto mais recente é o documentário “Eusébio – História de uma lenda”. Facebooktwitterlinkedinmail

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