Escolhi dois episódios da minha vida profissional que me marcaram.
Em Julho de 2008 viajei até Itália em trabalho. O objectivo era acompanhar os primeiros tempos de José Mourinho ao comando do Inter de Milão. Luís Figo jogava na equipa do Inter, naquela altura, o que acrescentava interesse à reportagem.
Já em Itália, eu e o repórter de imagem fomos à procura do hotel que a TVI nos tinha reservado, e quando chegámos fomos os dois à receção fazer o check in. Eu disse ao rececionista, em inglês, que tínhamos dois quartos marcados e ele, com ar surpreendido, insistiu várias vezes:
– Two rooms? Are you sure you want two rooms?
Achámos aquilo estranho, mas pouco depois percebemos o porquê da admiração do homem. Entrámos num recinto em que os quartos eram tipo casas, com estacionamento à porta e onde as pessoas nem se cruzavam. Quando entrámos, qual não foi o nosso espanto ao vermos que os quartos tinham espelhos no tecto e nas paredes, camas redondas e luzes neons. Além disso, contávamos também com uma oferta variada de outro tipo de artefactos, que não iríamos precisar numa viagem de trabalho.
O hotel, claramente, não servia os nossos interesses até porque a Internet era fraquíssima (como viríamos a perceber, mais tarde, da pior maneira possível).
Estávamos em Appiano Gentile, perto de Milão e, como não íamos ficar muito tempo ali, resolvemos não perder tempo a tentar mudar de hotel. Má decisão.
Nos primeiros dias o nosso trabalho foi um fiasco. Não conseguimos enviar em tempo útil as nossas reportagens devido ao facto da Internet do hotel ser tão fraca. Naquela altura os meios não eram os de hoje, eram mais rudimentares, e o trabalho demorou várias horas a seguir para Lisboa. Foi um desespero. Além disso, o meu editor fartou-se de gritar comigo ao telefone, a dizer que o melhor era voltarmos para Lisboa porque não estávamos ali a fazer nada. Sentimo-nos super injustiçados mas, nos dias seguintes, a nossa sorte iria virar…
Entretanto mudámos de local e fomos para Brunico, a norte de Itália. Desta vez, ficámos num hotel “normal” onde a Internet funcionava melhor. Fizemos uma entrevista exclusiva com o José Mourinho que passou no Jornal Nacional e no último dia em Itália falámos também em exclusivo com o Luís Figo. Nesses dois últimos dias o nosso trabalho passou todo certinho no Jornal.
O mais irónico é que, nesses dias em que o trabalho correu de forma espectacular, o editor que se tinha chateado comigo tinha ido de folgas e quem lá estava para receber o trabalho era outro dos nossos chefes. Escusado será dizer que ele ficou todo chateado, já o outro ficou com a percepção completamente oposta da nossa prestação em Itália.
A outra história é rápida e, de certa forma, cómica.
Em Setembro de 2016 fui a Madrid fazer a reportagem de um jogo entre o Real Madrid e o Sporting, a contar para a Liga dos Campeões. No final, nós, jornalistas portugueses, concentrámo-nos na zona mista para tentarmos falar com o Ronaldo. Eu fiquei à frente e um colega deu-me o microfone para eu segurar. Acedi. Fazemos isso muitas vezes quando o espaço é pequeno e não dá para todos. Pouco depois, o Ronaldo passou, disse que não queria falar e desapareceu por uma porta. Escassos segundos depois, deu dois ou três passos atrás, voltou-se para mim e disse-me com um ar indignado e divertido:
– Ainda por cima com esse micro na mão?!
Só depois me apercebi que tinha na mão o microfone da CMTV, igual ao que o Ronaldo tinha atirado para o lago uns meses antes…
Lisboeta, nascida há 39 anos. Jornalista da Editoria de Desporto da TVI desde 2006. Passou anteriormente pela rádio TSF, onde colaborou quatro anos.