Pedro Vieira

Esta história passa-se na altura do Mundial de juniores de 1991, que foi mais ou menos por esta altura do ano, se não me engano. Tinha 15 anos e suponho que a escola já tivessse acabado ou que estivesse perto do fim, porque estava numa manhã folgada com malta do meu bairro. Ouvíamos muito a rádio Cidade, creio que nessa altura já não era pirata, era também uma fonte de música, e de repente entra no ar um passatempo para ganhar bilhetes para a final do Mundial. Na altura aquilo estava a arrancar, não fazíamos ideia de quem é que iria à final, mas eles ofereciam bilhetes.
O passatempo implicava ir até a um campo de treinos do antigo Estádio da Luz e marcar um golo de penálti a um ex-guarda-redes do Benfica. Era o Zé Gato, o José Henriques, que estava na baliza e quem aparecesse até às X horas tinha a oportunidade de lhe marcar um golo de penálti e ganhar um bilhete. E foi isso que aconteceu. Éramos quatro ou cinco lá do bairro, morávamos em Benfica, estávamos muito perto do estádio, e todos nós conseguimos marcar um golo ao Zé Gato, que também não se esforçou demasiado para defender. Apesar de estar na reforma há uns tempos acho que ele nos podia ter dificultado mais a tarefa. E há uma curiosidade: quem estava a acompanhar aquilo, e que era um bocado o faz-tudo do Benfica, era o Eusébio. Era ele que estava a pôr a bola na marca do penálti enquanto a rapaziada fazia os remates.
Ficámos com o bilhete garantido, na altura ninguém tinha a certeza se Portugal iria conseguir outra vez chegar à final, e acabámos por ver os jogos todos em Lisboa. O primeiro jogo foi no Porto e vimos pela televisão, mas depois o mesmo grupinho foi sempre ao estádio ver os jogos com a Argentina, Coreia do Sul, México e Austrália. Tenho ideia de que na primeira fase os jogos não tinham lotação esgotada e as entradas eram bastante facilitadas, acho que entrávamos com o cartão de estudante. Só depois na fase a eliminar era necessário comprar, mas com o Cartão Jovem ficava muito barato. O único jogo que vimos na bancada central foi o dos quartos-de-final, com o México. Foi um jogo sofrido, que ganhámos no prolongamento com um golo do Toni, que desapareceu depois.
E lá fomos ver a final com o Brasil, num estádio completamente a abarrotar, provavelmente muito acima da lotação que tinha. Foi porreiro porque não tivemos que nos esforçar muito para conseguir o bilhete para uma final histórica, de um Mundial que acabou por ter como melhor jogador o Peixe. Depois eclipsou-se completamente ao contrário do Figo e do Rui Costa, que também foram campeões do Mundo.


Trabalha na Booktailors, tem um programa de debate político na RTP3, O Último Apaga a Luz, apresenta o programa Inferno no Canal Q e já publicou dois romances e um livro de crónicas. Facebooktwitterlinkedinmail

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