Pedro Henriques

O meu primeiro jogo, ainda como fiscal de linha, como se chamava na altura aos árbitros assistentes, foi na época 1990/91, nos Distritais, entre o Damaiense e o Estrela da Amadora. Nunca tinha ido à Damaia e era a primeira vez que participava num jogo. E logo nos minutos iniciais, nem tenho a certeza de ter sequer levantado a bandeirola, um senhor, destacado na bancada, que me foi mimando com vários insultos, gritou-me algo tão fantástico somo isto: “És sempre a mesma coisa! Cada vez que cá vens roubas sempre o Damaiense!” Percebi, claramente, que aquele senhor me disse o que diria a outro que estivesse no meu lugar, independentemente da sua atuação o que me fez refletir desde logo que o importante seria sempre estar concentrado e focado no meu trabalho e nunca reagir ou alterar o meu comportamento ou prestação em função de ruído, insultos ou contestações, foi assim como que um género de batismo, vacinação e imunidade adquirida.
Recorda-me ainda um outro episódio que me aconteceu em 2001/2002 – curiosamente, também numa estreia, no caso, na I Liga -–, num jogo entre o Santa Clara e o Braga, ganho pelos açorianos por 1-0, com golo de Toñito. Às tantas, assinalei uma grande penalidade contra o Braga, a punir uma mão de Puma, e que Brandão não converteria em golo, e o técnico bracarense, Manuel Cajuda e o seu adjunto, Rui Nascimento, protestaram imenso com a minha decisão. Naquela época, não havia intercomunicadores mas apercebi-me dos protestos e dirigi-me ao banco bracarense numa perspetiva de adverti-lo (como se sabe, não há a amostragem de cartões aos elementos técnicos), mas o técnico, do cimo de toda a sua experiência colocou um ar angelical, julgo que pôs as mãos atrás das costas e disse-me “Eh, senhor árbitro, ponha-se no meu lugar. É tão difícil ser treinador de futebol!”. Achei tanta graça que sorri e, em vez de uma advertência verbal, limitei a responder-lhe à letra: “E ponha-se no meu lugar: é tão difícil ser árbitro de futebol!…” E selámos o assunto com um aperto de mãos, aplaudido por uns na bancada e apupado por outros.


Tenente Coronel de Infantaria, na Reserva, e ex-árbitro da 1ª Liga, destaca-se actualmente como comentador na SportTv. Publicou recentemente o livro Árbitro de Bancada – Manual para Adeptos. Facebooktwitterlinkedinmail

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4 comentários sobre “Pedro Henriques

  1. “(…) foi na época 1990/91, nos Distritais, entre o Damaiense e o Estrela da Amadora.” Em 1990/91, Estrela da Amadora nos Distritais? Equipa B, talvez?…

  2. vive no norte america eu vejo desportes muitos mais rapidos do que futebol eu ainda nao entendi porque ainda nao iziste O VEDIO ARBITRE EM PORTUGAL mas embora que nao seja permetido na europa mas portugal pode o fazer pra sua nacao porizemple taca da liga o campionato etc. etc. estou a falar so nas tacas desputadas de portugal mas isto a que ninguem me esplicou ainda porque nao uzao o vedio arbitre no tempo do jogo ja nao entressa depois do jogo a cabar i dizer o que ta mal o que esta direito! avia muito menos criticas contra aos arbitres gostava que alguem me esplicasse porque nao teem oficial o vedio arbitre muito obrigada!…

  3. Conheço vários árbitros, como me disse um deles: “Nunca conheci ninguém que nascesse da equipa do arbitro.” Respeito muito o trabalho de um árbitro, acima de tudo porque as decisões são em fracções de segundos.
    Tenho um enorme respeito pelo Pedro Henriques, mas tenho uma história engraçada com o seu nome. Um dia com um amigo lagarto fomos a um Benfica – Sporting acho que em 2006 ou 2007, numa jogada em que se dá falta a favor do Benfica esse meu amigo começa a queixar-se, há dois homens benfiquistas que o mandam calar e ele grita: Quem é o árbitro [ eu respondo Pedro Henriques] e ele logo diz: Calem-se, este até no Benfica jogou.
    Claro que ele falava de Pedro Henriques que jogou nos anos 90 no Benfica e no Porto.

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