Pedro Alves

Perguntam-me, amiúde, se me considero mais benfiquista que português. Quem me faz essa pergunta, fá-lo por conhecer o meu fanatismo (ainda que sensato, creio eu) pelo Benfica. A minha resposta é sem espinhas. Sim, sou mais benfiquista que português. Provavelmente, serei dos poucos a poder dizê-lo com legitimidade. Nasci a 7 de Setembro de 1988 e, no dia seguinte, o meu pai foi registar-me como cidadão nacional. Uma coisa normal, portanto. Mas, antes disso, fez um desvio. Passou pelo Estádio da Luz e fez-me sócio do Sport Lisboa e Benfica. Até hoje, o meu pai continua a dizer que, por uma questão de logística, dava-lhe mais jeito passar no Estádio da Luz para, na volta, registar-me como cidadão português, capaz de direitos e deveres a nível nacional. A minha mãe não acredita. Eu também não. Claramente, o meu pai não queria perder a oportunidade de me fazer primeiro benfiquista, e depois então cumprir essa banalidade de me colocar como futuro devedor de impostos. E fez muito bem. Por isso, considero-me mais benfiquista, sou há mais tempo cidadão benfiquista que cidadão nacional e tenho a honra de, aos 25 anos, ter recebido desde logo a Águia de Prata. E isso, devo-o ao meu pai. Como lhe devo o facto de ter nascido em Cascais mas ter estado sempre dado como nascido no Cacém, onde sempre morei. Mais uma vez, por um questão de praticidade, o meu pai achou que era mais fácil tratar de assuntos perto de casa que ter de ir a Cascais quando fosse necessário. Há algum problema entre o meu pai e cumprimento de burocracias de forma normal, mas eu desculpo-lhe a circunstância de ter “nascido” no Cacém com o facto de ser o sócio 15872 do Glorioso. Não me interpretem mal. Vibrei muito com o Euro 2016 (o único momento em que me senti quase tão português como benfiquista) e vou sofrer com o Mundial. Chorei quando perdemos em 2004. Mas vai ficar-me mais tempo na memória a bolinha que o Pizzi não meteu no Casillas há umas semanas atrás. Só isso.


Comediante dos sete ofícios, escreve para colegas, faz stand-up, espectáculos corporativos, e tem um programa no Youtube chamado “Mal e Porcamente” . Vai estrear um gameshow ao vivo criado por si.

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