Estive ligado ao Toni durante seis anos, ele é uma figura fantástica. Vou contar uma história que, para mim, se não for a melhor história de futebol de sempre, está no top de certeza absoluta. Estávamos no Irão, no Tractor, a lutar para sermos campeões. Mas na altura passámos por uma fase em que se meteu a Liga dos Campeões pelo meio do campeonato e em duas semanas estivemos três jogos sem ganhar. Tivemos dois empates e uma derrota, salvo erro. Um dia estávamos em casa, a equipa técnica morava toda no mesmo prédio – Toni, filho, eu e o Vítor Campelos – e o Toni recebeu um telefonema do nosso tradutor a pedir para irmos uma hora mais cedo do que estava programado porque o presidente queria ter uma reunião connosco. O Toni avisou-nos e lá fomos mais cedo para o estádio. Quando chegámos, entrámos na sala de reuniões do presidente. Era um homem que não tinha nada a ver com o futebol. Era uma figura militar importantíssima no país, impunha um respeito que intimidava, tinha estado na guerra do Iraque. Estava o presidente, o tradutor e nós os quatro. O presidente começa a falar, não entendíamos nada, claro, depois o tradutor virou-se para o Toni e disse: “mister, o senhor presidente está a dizer que nestas últimas semanas não está muito agradado com a equipa e que vê ali um problema, diz que há um buraco no meio-campo.” E o Toni: “desculpa lá, ele está a dizer o quê?” E o tradutor: “está a dizer que há um buraco no meio-campo.” Nisto, o Toni, com toda a sua calma e com uma classe incrível, vira-se para o tradutor e responde: “Ó Amir, tu vais perguntar ao senhor excelentíssimo presidente se sabe o que é uma pá.” O tradutor ficou a olhar para o Toni muito preocupado e o Toni insistiu: “Estás a perceber o que estou a dizer? Vais perguntar ao senhor presidente se sabe o que é uma pá.” E o tradutor, cheio de medo do presidente, por ser general e uma figura daquelas, lá lhe perguntou. O presidente ficou com uma cara um bocado estranha ao princípio mas depois começou-se a rir. E o tradutor disse: “sim, mister. O presidente está a dizer que sabe o que é uma pá.” E o Toni: “Amir, então agora vais dizer ao senhor presidente que se ele acha que está ali um buraco no meio-campo, que pegue na pá e que o vá tapar!” O tradutor ficou aflito, nós estávamos ali a querer rir e não podíamos, o Toni sempre com uma calma impressionante, e quando o tradutor volta a falar com o presidente este ficou com uma cara que não estás bem a ver! Mas lá disse que não queria estar a meter-se no trabalho e tal. E o Toni: “Ó Amir, diz lá ao presidente que isto foi só um pequeno aparte, mas não vejo nele competências técnicas ou tácticas para estar a falar de futebol comigo, está bem?” Agora imagina o que é dizer isto a uma figura importantíssima, que toda a gente parava para ele passar. Não dá para descrever o ambiente na sala, mas foi fantástico!
Tenho outra história com o Toni passada na primeira vez que fomos trabalhar para aqueles lados, em 2007. O Toni estava na Árabia Saudita e fomos estagiar para a Tunísia. Os muçulmanos rezam cinco vezes por dia e têm horários próprios para rezar. No primeiro treino do estágio da pré-época, de manhã, estávamos a fazer uns exercícios e de repente os jogadores pararam todos a meio do treino: uns sentaram-se no chão, outros foram para um canto e o Toni começa a dizer-lhes para não pararem, com o apito e aos gritos, uma confusão do caraças e eles “Alá, Alá, Alá” e puseram-se a rezar. Então lá nos vieram explicar que o horário do treino coincidia com uma das rezas. Tivemos de parar ali uns dez minutos até acabarem a reza para voltarem a treinar. Ninguém nos tinha falado daquilo. Depois o director desportivo lá nos explicou e o Toni disse que respeitava e pediu para nos dizerem as horas em que podíamos treinar para não dar aquela confusão. Na altura não nos deu para rir, um gajo fica maluco, mas agora fartamo-nos de rir ao relembrar situações destas. Começámos a ouvir a reza nos altifalantes das mesquitas, nisto o Toni aos gritos, com aquele carisma e a intensidade que ele tem pelo futebol, por ser tão apaixonado, quase que corria atrás dos jogadores para os pôr outra vez dentro do campo!
Antigo guarda-redes de equipas como Estoril, Odivelas e Atlético, é agora o treinador de guarda-redes dos Philadelphia Union, dos Estados Unidos.
Fantástica história! Não consigo parar de rir… LOLOL
Ainda me estou a rir! Muito bom! Grande Toni!
Aqui está demonstrada a verticalidade, apoiada com o grande sentido de humor que se lhe reconhece. o Toni é mesmo um grande senhor. As suas virtudes, não passam só pela sua verticalidade, mas também pela frontalidade e sinceridade. Grande Toni.
Obrigado ao Paulo Grilo, por trazer a público estes episódios que só enriquecem o carater do Homem. Parabéns.
Alcindo Oliveira
Moita Anadia
Dois GRANDES SENHORES. ABRAÇO MEU AMIGO.