Paulo de Carvalho

Quando eu andava a brincar, para mim a brincar, nas camadas infantis do Benfica, andei por lá, nós treinávamos muitas vezes contra os mais crescidos. Quando eles se magoavam vinham treinar com os miúdos até para que nós os conhecêssemos melhor e tal. E havia um desses jogadores da primeira categoria do Benfica, o Humberto Fernandes, um dos suplentes do Humberto Coelho e desse pessoal, que tinha andado comigo ao colo. Conhecíamo-nos bem e tratava-o tu, apesar de ele ser um bom bocado mais velho que eu. E uma vez, num daqueles treinos, passam-me a bola e faço-lhe aquilo a que os profissionais chamam um túnel, nós chamamos uma cueca, passei-lhe a bola pelo meio das pernas e fui buscar do outro lado. E vem um grande amigo meu, que já nos deixou, depois tornou-se num grande amigo quando comecei a crescer, o José Torres, grande jogador do Benfica e da Selecção Nacional, vem por ali fora e deu-me uma pisadela… “Ó menino, respeitinho.” Naquele tempo havia esse tipo de respeitinho e eu estive um mês sem jogar, até me deve ter caído a unha do dedo do pé. Ouvi muitas vezes o António Simões e muitos dos outros, o próprio Eusébio, era “o senhor Coluna”. Não quer dizer grande coisa, mas para mim quer dizer muita coisa. Não sou um saudosista, nem acho que isso seja super importante, mas tenho algumas saudades desse tipo de respeito, que não vejo hoje.
A minha carreira futebolística federada terminou no Belenenses, que é uma coisa que quase ninguém sabe. E como tenho um grande amigo que é sócio do Belenenses, o pai fê-lo sócio quando era miúdo, ele continuou a pagar as quotas, sei que há essa simpatia dele pelo clube, ofereci-lhe o meu último cartão de jogador, que ele tem lá no escritório. É um rapaz que não canta mal o fado, chamado Carlos do Carmo.


Aos 55 anos de carreira acaba de editar “Duetos”, onde recorda êxitos agora na companhia de outras grandes vozes. O álbum é produzido por Agir, seu filho e colega no programa “Just Duet”, na SIC.

Foto: Gonçalo Claro Facebooktwitterlinkedinmail

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Um comentário sobre “Paulo de Carvalho

  1. Ser pisado por um 46 não deve ter sido nada bom! É sempre bom ouvir novas histórias.
    Um grande abraço ao Sr. Paulo de Carvalho

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