Toda a gente sabe que o meu pai é fanático por futebol e muitas vezes falam comigo como se eu estivesse sempre a par do que se passa no futebol.
Há uns anos, de manhã, saio de casa e uma pessoa cumprimentou-me. Trocámos umas palavras e disse-me: “E o seu pai? Como é que está?” Disse-lhe que estava bom e tal. Nisto mando uma mensagem ao meu pai a perguntar banalidades e lembro-me que acabava a mensagem a perguntar-lhe “como é que estás?”. E ele responde-me: “Como é que eu estou? Tu ainda ousas perguntar como é que eu estou? Mas como é que eu deveria estar? Isso não é pergunta que se faça”. Juro que não estava a perceber nada da mensagem. E perguntei-lhe o que é que se passava. Então aí é que ele me começa a contar a história. “O Benfica ontem perdeu e já não vamos ser campeões”. Já não me lembro que jogo era mas pelos vistos era importante. Mas para ele aquilo era o fim do mundo!
O mais incrível para mim é que só perguntei como é que ele estava, uma coisa normal, e achei graça à forma como ele respondeu: “Ainda ousas perguntar como é que estou?” Estava à beira da morte, uma coisa ridícula de tanto exagero, mas ele é assim. Naquele dia passei a perceber que a vida dele é condicionada pelo futebol.
Filha do realizador António-Pedro Vasconcelos, herdou a paixão pelo cinema e é directora da ACT, uma escola de actores, já produziu um documentário e também é cantora de jazz.