Vivi um episódio que me marcou e que me prejudicou bastante, que foi a questão do doping. Depois de um jogo na Madeira, um Marítimo-Benfica, deu controlo positivo e até hoje ainda não percebi como aconteceu. O que acusou foi algo que todos produzimos, uns em maior quantidade que outros, não é nada que se tenha de tomar para aumentar. Há várias coisas que podem fazer aumentar esses valores, até carne de porco preto, por exemplo. Mas é algo que o próprio organismo produz e foi provado que isso é possível.
Jamais tomei alguma coisa e se tivesse dito que tinha tomado algo, como um comprimido para as dores de cabeça, ficava seis meses suspenso e estava resolvido. Era muito mais fácil. Só depois percebi que isto do doping é muito mais complexo. E prejudicou-me muito. Se soubesse o que sei hoje, depois de tudo o que aconteceu, provavelmente tinha dito que tinha tomado qualquer coisa porque isto é tudo uma treta. Para percebermos como é uma treta, hoje, essa substância, a nandrolona, já não faz parte das proibidas. É tão ridículo que agora chegaram à conclusão que a substância é produzida pelo corpo e que pode chegar a valores que não são os desejáveis.
Ainda falei com um advogado, queria ir até às últimas consequências, mas agora não posso fazer nada porque as regras na altura eram outras, embora estejamos a falar da mesma substância. Quem saiu prejudicado no meio disto tudo fui eu, não só em termos profissionais, mas também familiares porque ficamos rotulados por uma coisa que a maior parte das pessoas não sabe o que é. Felizmente, o meu filho era muito pequeno e não percebia, porque houve situações muito desagradáveis. Fala-se em doping e para a maior parte das pessoas é logo droga, mas cada um pensa como quiser. Com os adeptos do Benfica não tive qualquer problema, pelo contrário, foram excepcionais, mas claro que com a rivalidade que existe é normal que os outros adeptos aproveitassem para criticar e enxovalhar.
Foi uma situação que me custou muito e que me prejudicou por duas vezes. Parei seis meses, voltei a jogar e, quando estava numa fase muito boa, talvez a minha melhor fase no Benfica, com o Fernando Santos, tinha uma proposta muito boa do Estugarda, voltei outra vez a parar.
A minha saída do Benfica estava praticamente certa e na altura o José Veiga chamou-me ao escritório. Pensei que fosse para me dizer que estava tudo OK com a transferência. E quando entro vejo médicos e enfermeiros e fiquei logo: “o que é que se passa aqui? Os médicos não fazem parte disto, é porque tenho alguma coisa”. Foi quando me falou no doping e, por um lado, até me aliviou um bocadinho. “Não tomei nada, estou de consciência tranquila, isto vai resolver-se”, pensava eu.
Quando recebi a notícia da segunda suspensão estava a jogar muito bem, a sentir-me muito bem, numa excelente forma e, na altura, o mister Fernando Santos, que é um homem excepcional, tal como treinador, veio ter comigo e disse-me:
– Nuno, vai de férias. Quando quiseres, volta.
– Ó mister, vou de férias? Ainda é pior, não paro de pensar nisto. Pelo menos fico aqui e treino.
– Não, não estás aqui a fazer nada. Vai e, quando quiseres, volta.
– Mas não é preciso dizer nada a ninguém?
– Não. Eu mando nos jogadores, não te preocupes com o resto. Vai de férias.
Fui uma ou duas semanas, não me recordo, e voltei. E treinava como se nada fosse, sempre no limite, como se fosse jogar.
Nesta situação já foi o secretário de Estado do Desporto, o Laurentino Dias, esse senhor, que não me conhece de lado nenhum, falou de mim como se eu fosse um animal. Por acaso nunca me cruzei com ele, mas gostava de me cruzar um dia… Na altura a guerra já era entre o Governo e o Benfica. Da primeira vez, descobrimos vários factores que podiam ter levado a que os valores fossem alterados, fui suspenso seis meses, e foi-nos dada razão, a mim e ao Benfica. Como o CNAD ia perder um pouco de credibilidade, porque as pessoas a partir daí iam pôr sempre em causa tudo o que fossem os resultados, e é um organismo suportado pelo Estado, já era o senhor Laurentino Dias contra mim e contra o Benfica. Eles recorreram para o Tribunal Arbitral da Suíça e, a partir daí, quando entra nesses patamares, eles não querem saber quais são as razões, só querem saber se deu positivo ou não, deram-me mais seis meses.
E lembro-me perfeitamente desse jogo com o Marítimo. Saí já perto do fim com cãibras. Se calhar o doping fez efeito contrário….
Estreou-se como sénior no Lourinhanense, emprestado pelo Sporting, e fez toda a carreira na I Divisão (Alverca, Gil Vicente, V. Guimarães e Benfica), além de ter jogado na Arábia e no Chipre.
Zé da Póvoa não tens pena de ser tão triste?
O que deves saber sobre Nandrolona
O que é
A nandrolona é um derivado da testosterona – hormona produzida pelos testículos e responsável pelas características sexuais secundárias do homem, como a voz mais grave, o desenho facial, as tendências mais agressivas, a erecção do órgão sexual, entre outras. É um esteróide altamente anabolizante, que favorece a transformação de matérias nutritivas em tecidos vivos. Basta a aplicação de uma ampola para que o atleta ultrapasse o limite estabelecido pelo Comité Olímpico Internacional (COI): dois nanogramas por mililitro de urina, nos homens, e cinco nanogramas nas mulheres. Apenas no ciclismo a taxa é comum para ambos os sexos: cinco nanogramas.
A nandrolona aumenta a massa muscular, até 16% em alguns indivíduos, o peso, entre os cinco e os nove quilos, e a resistência física. Os esteróides como a nandrolona têm a capacidade de produzir um aumento da síntese de fosfato de creatina, um composto essencial para a formação da substância trifosfato de adenosina (ATP), que, por sua vez, é fundamental para disponibilizar a energia para os diversos sistemas fisiológicos das células. No caso dos atletas, melhora a contracção muscular: quanto maior a energia acumulada, melhor o desempenho nos exercícios físicos e mais fácil é a recuperação física.
Este tipo de substâncias pode provocar ainda uma intensificação do fluxo sanguíneo, até 20%, de modo a melhorar o fornecimento de nutrientes à massa muscular. Para que a eficácia aumente, o atleta consome o esteróide em ciclos de seis semanas – 50 miligramas em cada dois dias -, no caso da nandrolona administrada por via intramuscular, a primeira a surgir no mercado e a menos utilizada actualmente.
O grande salto no consumo deste produto por atletas deu-se nos últimos anos, com o desenvolvimento de substâncias equivalentes à nandrolona, que apenas são detectáveis até 48 horas depois de consumidas. Desta forma, é fácil a um futebolista consumir nandrolona numa segunda-feira e escapar ao controlo do fim-de-semana seguinte. No entanto, a nandrolona pode acumular-se no tecido adiposo e voltar ao fluxo sanguíneo muito tempo depois, durante um esforço físico em que o corpo necessite de ir buscar energia a essa massa de gordura.
Efeitos secundários potencialmente nefastos
Um dos mais comuns é a retenção de água, que pode causar hipertensão. Para combater este efeito, os atletas consomem diuréticos (também proibidos), substâncias que obrigam à expulsão de água por parte do corpo e disfarçam o consumo de dopantes. Nos homens, o atrofio dos testículos é um dos efeitos mais graves: com o consumo dos esteróides, o corpo deixa de sentir necessidade de produzir testosterona, os testículos perdem uma das suas principais funções. A produção de espermatozóides decresce bastante e pode-se chegar à esterilidade total. Mas aqui há a possibilidade da realização de um tratamento hormonal…
O consumo de esteróides provoca ainda graves problemas no funcionamento do fígado, a perda considerável de peso é quase certa, o aumento do volume da próstata, acne que deixa marcas irreversíveis na pele e calvície prematura. Nas mulheres, regista-se ainda uma virilização, ou seja, um aumento de características masculinas.
CUIDADO!
O desenvolvimento da nandrolona oral provocou um novo “boom” no consumo, só descoberto com o desenvolvimento das técnicas “anti-doping”. Para além disso, uma lei aprovada pelos Estados Unidos em 1994 abriu caminho à comercialização descontrolada de esteróides anabolizantes como suplementos dietéticos e de uma poderosíssima indústria ligada a este negócio. Quem produz suplementos nutricionais vende ainda anabolizantes – como o 19-norandrostenediol e a 19-norandrostenediona, cujos efeitos são iguais aos da nandrolona -, daí que a contaminação seja fácil. Tanto mais que, segundo estudos dos laboratórios “anti-doping” de Colónia (Alemanha), Los Angeles (EUA) e Gent (Bélgica), vendem-se no mercado suplementos com dopantes, mas que nada referem nos rótulos.
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Laurentino Dias sempre foi uma toupeira vermelha colocada no governante. Por isso, o que o Assis diz não é coerente e talvez já se tenha esquecido!