Há muitos anos fui federado em futebol de 11 no Amora. Fui até ao segundo ano de iniciado, era extremo direito. Joguei algumas vezes também a lateral direito, tudo o que era corredor direito era comigo. Era um miúdo que gostava muito de correr, eles diziam que eu tinha velocidade. Foram tempos engraçados, na altura morava no Laranjeiro, perto de Almada, e o clube pagava-me o passe para eu ir de autocarro, fiz esse esquema todo. Tinha na equipa o Botelho, guarda-redes que chegou a jogar no Belenenses. O último jogo que fiz foi contra o Setúbal, ganhámos 3-1 e eu marquei um penalty, foi giro. Eu que nem sou grande marcador de penalties.
Depois tive que me dedicar realmente à música porque os jogos eram do Nacional de Iniciados, já não era brincadeira nenhuma e nós tínhamos espectáculos ao fim-de-semana, era tramado tocar e cantar até às tantas da manhã no sábado e no domingo, pelas oito, oito e meia da manhã, já tinha que estar no campo de jogos porque íamos viajar não sei para onde. Era muito complicado e foi aí que tive que decidir.
Quando faço esse último jogo estávamos quatro miúdos para ir para o Belenenses. Eu, o Botelho e mais dois rapazes. Já tínhamos a nossa carreira musical e os meus pais olhavam para o futebol como uma actividade complementar, a principal sempre foi a escola, que era para ser cumprida com rigor. Eu também não era nenhum Cristiano Ronaldo ou Nani, cumpria em termos tácticos, sempre fui bem mandado e jogava com muita raça. Ia para juvenil do Belenenses e foi aí que nos caiu a ficha, tinha que ir para Lisboa, transportes e depois a responsabilidade de estar sempre muito bem aos domingos. Por acaso a história da música correu bem, no futebol não sei até onde podia ter ido, não faço a mínima ideia.
Hoje em dia não me arrependo e digo à malta que tenho dois clubes, já era do Benfica e fiquei a gostar muito do Amora, é quase como se fosse o clube da terra, apesar de que morava muito mais perto do Cova da Piedade, onde jogaram amigos meus, caso do Marco Silva, que agora é um excelente treinador de futebol.
Eu e o Sérgio sempre tivemos a paixão da bola e somos muito solicitados para na altura das férias integrar equipas de jogos que depois revertem para determinadas causas de solidariedade. Sentimos a necessidade de constituir uma equipa, o Anjos Futebol Clube, que está debaixo da nossa associação sem fins lucrativos e depois disso tivemos que fazer pelo menos um torneio, para justificar porque é que temos a equipa. Inscrevemo-nos na Liga Eusébio, no Sacavenense e foi uma experiência muito agradável. Eram jogos de futebol de 7, muito competitivos e nas duas edições em que participámos ficámos primeiro em terceiro e depois em segundo, perdemos na final. No ano em que ficámos em terceiro o Eusébio só ia assistir à final, para entregar o prémio ao vencedor, mas como ele sabia que íamos jogar para o terceiro lugar, foi de propósito assistir e entregar-nos a taça. Foi inacreditável e ficámos com uma foto para a posteridade.
Deu o primeiro concerto, juntamente com o irmão, aos 12 anos. Em 1999 lançam Ficarei, o primeiro álbum como Anjos, com um sucesso estrondoso que se mantém até hoje.