Estávamos em estágio no Rio Ave e tinha sido contratado um jogador brasileiro, o Jader. O Paulo Lima Pereira gostava de fazer partidas e tratámos de praxar o Jader. Tínhamos sempre alguém no hotel que nos disponibilizava a chave para podermos entrar nos quartos. O Jader chegou, ficou sozinho num quarto e nós tratámos de lhe fazer partidas, uma das quais foi entrar no quarto dele e passar um bocado de Colgate no auricular do telefone para depois lhe ligarmos.
– Alô?
– Sim. Quem fala?
– É para dizer que apanhámos mais um otário.
O mais engraçado é que ele ao meter aquilo na orelha não se apercebeu. Fomos jantar e ele apareceu lá em baixo com a orelha toda branca.
– Ó Jader, o que é que se passa com a tua orelha? Lavaste-te?
– Sim, lavei-me.
– Então o que é que se passa para teres a orelha toda branca?
Ele começou a meter a mão na orelha e ficou intrigado com aquilo.
– Isto é pasta de dentes. Mas como é que isto veio parar à minha orelha?
O pessoal começou-se todo a rir e foi quando ele se apercebeu que lhe tínhamos pregado uma partida. Nesse mesmo estágio fizemos-lhe outra. Normalmente os treinos de pré-época eram puxadinhos e a primeira coisa que fazíamos ao ir para os quartos era deitarmo-nos na cama. E do que é que nos lembrámos? De lhe tirar o colchão, metê-lo na varanda e voltámos a fazer a cama toda direitinha só com o estrado. E ele, cansado do treino, entrou no quarto e mandou-se para cima da cama. Foi um estrondo quando ele bateu no estrado e desatou tudo a rir no corredor. Ele veio cá fora e estava furioso.
– Seus filhos disto, seus filhos daquilo! Só me fazem partidas a mim, vocês vão pagar! Eu tenho uma pistola em casa e faço e aconteço…
E era a malta toda a rir no corredor até não poder mais.
Tenho outra engraçada, passada no Chipre. Fomos de estágio para a Bulgária e perto do hotel havia uma loja de velharias que tinha armas de colecção, muita coisa. O nosso capitão, que já estava há bastantes anos no clube, lembrou-se de comprar uma taser, aquelas pistolas que a polícia usa, só que com menos voltagem, claro. Andou o estágio todo a pregar partidas aos mais novos, a dar-lhes com a taser. Havia um, que era mais esperto que os outros, que pensava que ia passar o estágio sem levar com a taser. No último dia, o nosso capitão foi esperá-lo dentro do quarto porque ele tinha de levar com a taser, não podia ser o único a escapar. E assim foi. Ele chegou ao quarto, abriu a porta mas como ia muita gente atrás dele achou aquilo um bocadinho estranho. Ele normalmente deixava a janela do quarto aberta. Estava num primeiro andar, não muito alto, e à frente da varanda tinha um jardim, com uns arbustos um bocado altos. Quando ele entra no quarto e vê o capitão com a taser na mão pronto para lhe dar um choque desatou a correr para a varanda e atirou-se lá para baixo. Quando fomos ver estava ele estendido no meio dos arbustos, a queixar-se, todo picado, e foi a risota total. Acabou por ser melhor do que ter levado com a taser! Ainda bem que as coisas não tiveram uma proporção maior porque ele podia-se ter magoado a sério ao atirar-se do primeiro andar. Esteve dorido algum tempo mas não teve nenhuma lesão grave.
Temos muitas partidas mas estas eram umas das que ainda não tinha tornado públicas. São situações que, de facto, fortalecem um grupo quando toda a gente adere. São momentos para nos divertirmos e para bem do grupo.
Despontou no Rio Ave e passou por Nacional, Benfica, Sp. Braga, Marítimo, Belenenses, V. Setúbal, Apollon Limassol, Moreirense, Chaves e terminou no Tirsense em 2016. Hoje é agente da ProEleven.