Miguel Lambertini

“Substituição na equipa do Belenenses, sai com o número 21 Meyong, entra com a camisola 7: Ahamada!” Tinha acabado de dizer estas palavras aos altifalantes do Estádio do Restelo, quando o Vasco me ligou. Em 2005 o clube das quinas fez uma excelente época tendo inclusivamente ficado próximo dos lugares europeus, muito à custa do jovem camaronês Meyong que foi o melhor marcador do campeonato. Já eu, depois de ter terminado o estágio, andava um pouco perdido à procura de uma nova empresa que quisesse contratar um jovem licenciado em comunicação social, e então aceitei o convite de um amigo para trabalhar em part-time como speaker de alguns dos jogos da 1ª Liga de Futebol. Quando o jogo terminou, devolvi a chamada e foi aí que o Vasco me contou que a nossa ideia de organizar um mega evento com DJ’s nacionais e internacionais tinha sido bem aceite por uma marca importante, que gostaria de ser o patrocinador principal. Lembro-me de ter ficado todo contente com a perspectiva de poder organizar algo desta dimensão e claro, como pessoa parva de 24 anos, não tinha a mínima noção do trabalho, tempo investido e consequente “stress pós-traumático” que esta empreitada viria a dar. Foram meses de preparação, centenas de reuniões, noites mal dormidas, horas ao telefone, tudo para que no dia 21 de Maio de 2005, no Armazém Terlis da Gare Marítima de Alcântara, as portas abrissem para 12 horas de música de dança e uma catrefada de feixes de laser. Sim, foi mesmo uma coisa em grande. Pelo palco do Caixa Groove On passaram Bruno Nogueira (que fez a abertura com stand-up), os Underdog Project (com o seu clássico Summer Jam), ainda o DJ Felix da Housecat, DJ Sasha e os portugueses Dj Vibe e Dj Jiggy que só desligaram a máquina quando já era dia.
Como todos os eventos de alguma dimensão, também neste foi preciso montar uma estratégia forte de comunicação e RP que passava entre outras coisas, pela realização de uma festa de apresentação à imprensa, com a presença de algumas figuras públicas. Para esse efeito foi contratada uma relações públicas cuja recheada lista de contactos iria garantir a presença dos tais “vips”. Na altura era esta a designação, mas hoje em dia ainda há pessoas que insistem em utilizá-la. Parem com isso. Ou o Papa e a Angela Merkel vão ao vosso evento, ou então se é só mesmo a Bibá Pitta (ou quaisquer outras pitas), não usem o termo vip. A tal RP tinha uma relação privilegiada com o mundo do futebol, e era próxima de alguns jogadores, e então sugeriu que convidássemos o grande Daniel da Cruz Carvalho, mais conhecido por Dani, para ser um dos embaixadores do evento, o que veio a acontecer. Na semana em que estávamos a mil com a organização da festa de apresentação do evento, bateram à porta do nosso escritório, uma sala mínima que servia de quartel-general, cantina e às vezes caserna, nas noites mais prolongadas. Uma miúda que estava a trabalhar na organização connosco foi abrir e passados poucos segundos voltou a fechar a porta. ‘Então, foi engano?’ – perguntei eu. ‘Não – diz ela – ‘era um vip à procura da Francisca (a RP), disse para esperar lá em baixo, que ela deve estar a chegar.’ Perguntei quem era e ela respondeu que era aquele que jogava no Sporting e agora está em Inglaterra…Jogou no Sporting e agora está em Inglaterra, pensei para mim com alguma estranheza. Bom, o Ronaldo não é de certeza…’Mas quê, era o Boa Morte?’ – perguntei. Ao que ela responde, ‘Quem é esse? Não, era aquele, o Cristiano…nunca pensei que fosse tão alto, olha que ele é quase da tua altura.’ Em 2005 o CR7 ainda não era o super astro que é hoje, mas ainda assim já tinha projeção internacional e era o camisola 7 do Manchester United! Tudo coisas pouco relevantes para quem ‘não ligava muito ao futebol’. Ainda pensei ir atrás dele para pedir para tirar uma selfie, mas em 2005 ainda não tinham inventado essa moda. Fiquei a achar que iríamos ter o Ronaldo na apresentação da festa à imprensa, mas ele nunca apareceu…Não tivemos o CR7 mas tivemos o Dani, que para além de ser mais bonito é um cavalheiro e um anfitrião muito divertido. No final da festa convidou-nos para ir a casa dele, que ficava relativamente perto, onde a noite se prolongou num afterparty que teve tanto de animado como surreal. Uma noite absolutamente incrível, que acaba comigo e outro amigo a calçar as luvas de boxe do Dani e a fazer um combate “épico” no ginásio lá de casa. Ganhou o vodka por K.O. Mas isso é outra história…


Mudou várias vezes de vida e chamou atenções com uma canção de apoio ao Benfica e Salvador Sobral. Agora além do stand-up vai usar o palco para cantar, no Festival Alternativo da Eurovisão. Facebooktwitterlinkedinmail

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Um comentário sobre “Miguel Lambertini

  1. Um reparo apenas: a equipa – não o clube – das quinas é a nossa Seleção; já o Belenenses é, também, conhecido como aquele que ostenta a muito respeitada Cruz de Cristo.

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