Manuel Curto

A minha aventura no Cazaquistão começa com a falta de pagamentos em Portugal, nomeadamente na Naval e depois no União de Leiria. Quando rescindi contrato no Leiria decidi arriscar e digo aventura porque é um país desconhecido e cujo nome assusta… Mas lá fui eu. Começo a pré-temporada com um estágio em Antalya, na Turquia. Dois meses a treinar, porque no Cazaquistão nessa época, em Janeiro/Fevereiro, faz muito frio, 20 graus negativos. Até aí muito bom: bons hotéis, bom clima, Antalya é uma cidade perfeita para fazer a pré-época. Em Março vamos para o Cazaquistão, porque começa o campeonato e foi um choque quando cheguei à cidade onde vivia, Taraz, que também dá nome ao clube. Quando cheguei as diferenças em relação a Portugal eram evidentes, embora financeiramente fosse muito bom! Mas já tinha assinado, tinha de cumprir as minhas obrigações.

Em termos desportivos correu muito bem, fui eleito jogador do mês logo à primeira e mais uma vez uns meses depois. Agora a nível pessoal era muito complicado: a cultura, a religião, a alimentação, a língua russa, que acabei por aprender um pouco e ainda me lembro de algumas palavras, o estilo de vida era completamente diferente do nosso, mas fui-me habituando e com sacrifício lá ia desfrutando do futebol, porque era a única coisa que me fazia feliz!

Algumas das experiências vividas no Cazaquistão têm alguma piada. Uma delas foi que estive doente com febre e, como é normal, fui falar com o médico do clube. Receitou-me uns medicamentos que não conhecia, mais um chá de uma erva que também nunca tinha ouvido falar e, por incrível que pareça, disse-me para comer cão que iria fazer-me bem! Perguntei umas dez vezes se era mesmo cão que ele queria dizer e ele “sim, sim. Cão! Faz bem à saúde!”. Como é óbvio, era (e sou) incapaz de comer cão! Outra boa aventura que agora acho engraçada mas na altura me fez entrar em pânico foi andar de avião… Nos jogos fora viajávamos sempre no avião do clube, um avião pequeno, para 30 pessoas no máximo, daqueles a hélices, acho que se chamam planadores. Fazia tanto barulho lá dentro que não se ouvia o colega do lado… Tenho medo de andar de avião, então naqueles ia a viagem toda a rezar. Uma das vezes que íamos para um jogo os meus colegas começam a dizer que íamos aterrar num terreno porque o aeroporto estava fechado. No início pensei que estavam a assustar-me, porque riam-se de eu ter medo, mas afinal estavam a falar a sério! Íamos aterrar mesmo num terreno com algumas ovelhas e vacas, tipo uma quinta… Não queria acreditar, mas era verdade! Aterrámos na erva e, felizmente, correu tudo bem. Para eles foi normal, para mim foi o pânico. Estas foram algumas das muitas aventuras que vivi no Cazaquistão. Mas só tenho a agradecer ao povo Kazak por me terem acolhido e recebido tão bem! Fiz bons amigos, com os quais ainda mantenho contacto.


Foi formado no Benfica, de onde saiu ao fim de dez épocas e já jogou em Espanha, no Cazaquistão, na Polónia e na Bélgica. Actualmente encontra-se sem clube depois de jogar no Atlético. Facebooktwitterlinkedinmail

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