“Então, puto. E essas férias com a mamã? Granda saco, não?”
Para um adolescente pré-adulto, passar férias com a mãe é algo que envolve prós e contras. Por um lado, o adolescente não está a gastar dinheiro e está a conhecer um país estrangeiro, come de forma gratuita iguarias que o tornarão mais cosmopolita, tem tempo para pensar nas suas angústias pós-púberes e para conversar com a mãe e deixar de a ver como aquela arquirrival da puberdade. Por outro, está a desperdiçar tempo útil para potenciais atividades de fortalecimento de laços com os outros adolescentes, poderá em alguns dias esgotar os temas de conversa com a progenitora, terá de visitar locais de interesse que para ele têm zero e andará mais quilómetros do que em todas as aulas de Educação Física do 11º ano. Chegado ao destino, resta-lhe conceber o plano mais eficaz para impedir a predominância do tédio.
Em 2011 tinha 17 anos e fui com a minha mãe a Atenas. Depois de cumprido os diversos percursos arqueológicos que os guias turísticos tornam obrigatórios, e após alguma desilusão de ambos com a ambiência da cidade, a minha mãe revelou a vontade de fazer algo que não fosse excessivamente turístico. Senti que era o meu momento de tornar aquela viagem excitante e, através de um argumentário que hoje não seria capaz de replicar, convenci-a a comprar bilhetes para o Panathinaikos – Maccabi Telavive, de apuramento para a Liga Europa, porque “é também no futebol que se entendem os povos”. Não sei como aceitou, mas aceitou. Seguimos então para o estádio.
Atrasados, já que o estádio naturalmente não se situa numa zona turística e foi difícil de encontrar, entrámos por uma porta da bancada central, com o jogo já a decorrer. A decorrer? Esqueçam. Já tinha sido interrompido. Porquê? Porque se estava a desenrolar, ao invés do jogo de futebol, o desporto mais popular nos estádios gregos: o confronto físico entre adeptos adversários e polícia de choque. Isto não é excessivamente turístico, pois não, mãe? A claque do Panathinaikos galgava a bancada oposta à nossa, de uma ponta à outra, para irem maltratar os fieis ao clube israelita, enquanto os adeptos da central e os próprios stewards mostravam uma familiaridade estoica com a confusão total. Era apenas mais um dia de cacetadas na nuca. Entretanto, tendo em conta que a polícia de choque barrou a investida helénica do outro lado, outros membros da claque decidiram utilizar a bancada onde nos encontrávamos para aceder ao reduto adversário. É nessa altura que mãe e filho adolescente decidem fugir. A fuga não foi facilitada, já que desatamos a chorar, não pela péssima decisão de itinerário turístico, mas pelo facto da polícia estar a utilizar gás lacrimogéneo para dispersar os agitadores. Eventualmente conseguimos evadir-nos do estádio, seguindo-se uma viagem de táxi para o hotel que vou descrever como constrangedora para não dizer que levei um aperto daqueles. Por estas e por outras é que as mães gostam menos de futebol.
“Ya, puto, uma seca. Típicas férias em família”
Deu-se a conhecer nos Bumerangue, começando depois a fazer rir por conta própria. Também pode ser encontrado com Rui Cruz, Paulo Almeida e Diogo Batáguas, no espectáculo “Overdose de Tourette”.