Luís Zambujo

Quando estava no Aves fui ao Dragão jogar contra o FC Porto. Por acaso fiquei no banco e na segunda parte, para aí aos 50 minutos, o mister olha para o banco e diz-me para ir aquecer. Levanto-me para ir aquecer e, naquele preciso momento, o estádio inteiro levanta-se a aplaudir. Até me arrepiei! Nisto olho para trás e vejo o Quaresma, que se tinha levantado na mesma altura para ir aquecer. Afinal as palmas eram para o craque, não eram para o Zambujo…
E tenho outra história passada no tempo do Aves. Na altura vivia sozinho numa vivenda enorme. Nunca fui muito afoito de morar sozinho, ainda por cima numa zona que não conhecia. Quando a minha namorada não podia lá ficar, tinha sempre algum receio de estar sozinho em casa. Numa noite em que estava a chover torrencialmente, estou no quarto, com tudo fechado, e para aí à 1h30, já estava a dormir, batem-me à porta. Achei aquilo muito estranho, ainda por cima a chover daquela maneira, fiquei cheio de medo. Vou pelo corredor às escuras, devagarinho, directo à cozinha para ir buscar uma faca. E batiam cada vez com mais força na porta. E eu a arrepiar-me todo, com uma faca na mão, só pensava: “mas o que é que se vai passar aqui?” A porta da vivenda era grossa, de madeira, daquelas antigas e de um lado tinha dois vidros. Do lado de fora era um espelho, mas por dentro dava para ver lá para fora. Quando espreito vejo dois gajos com meias a tapar a cara e estavam a arranjar a meia no espelho. E eu ali a vê-los, gelei completamente! Pior fiquei quando olhei para as mãos e vi que tinham caçadeiras! Bateram, bateram, claro que eu não abria a porta e estava ali a vê-los, a um metro deles, cheio de medo.
Passado algum tempo ouvi um carro e, para conseguir ver o que era, abri um pouco a persiana. Eles toparam e saíram três manos do carro com a cara tapada, com três caçadeiras. E vejo-os a vir directos a mim, com as caçadeiras apontadas e eu com a faca na mão, parecia um filme! Meto-me de joelhos, com a faca no chão e a gritar: “não me matem! Calma, dou-vos tudo!” E eles estiveram para aí uns cinco minutos a apontar-me as armas à cabeça, até que lá tiraram as meias da cabeça e vejo que eram os putos do Benfica. Em Janeiro, o Benfica emprestou três miúdos ao Aves, o Miguel Vítor, o Ruben Lima e o Romeu Ribeiro, que viviam num apartamento a dois minutos da minha casa e resolveram fazer aquela brincadeira. Estivemos para aí uma hora a rir e eu a bater-lhes! Estive quase um mês sem conseguir dormir naquela casa, ia dormir com eles. Ia lá a casa durante o dia buscar roupa e ia para a casa deles. Só quando os meus avós ou a minha namorada ia lá para cima é que conseguia ficar em casa. E eles tinham aquelas caçadeiras porque viviam numa casa que tinha sido de um caçador. A decoração era só cabeças de veado e isso.
Mas os putos gozaram bem comigo. “Ajoelha-te!” e “agora levanta-te”, sempre com uma voz grossa, nunca ia pensar que eram os miúdos. Ainda há pouco tempo falei com o Ruben Lima e a primeira coisa que me perguntou foi: “então ainda gaguejas, cabrão?” E eu: “não, tranquilo. Agora já não.” Isto porque andei para aí um mês a gaguejar com o susto!
Vivi nove anos no centro de estágio do Benfica e sempre fui rebelde e brincalhão, ainda gosto de estar sempre na palhaçada. Mas mesmo agora, aos 29 anos, se estou sozinho e oiço um barulho fico logo em alerta. Na altura era um palhaço, tinha uns 21 anos, eles deviam ter 18/19, e lá no Aves apanhei pessoal mais velho, como o Sérgio Nunes e o Gouveia, actual treinador da Académica, malta batida no futebol, e eu como lhes respondia eles gostavam de mim e só me faziam mal. Num estágio trancaram-me num quarto sem luz e comecei a bater mal e a gritar. Os putos começaram a aperceber-se, e também já tinham ouvido histórias do centro de estágio do Benfica, que eu não era muito afoito a muita coisa. Um dia lembraram-se: “O Zambujo está sempre a gozar com a gente, amanhã estamos de folga e vamos lá a casa pregar-lhe o maior susto da vida dele.” Se não foi o maior, foi dos maiores. O que sofri durante aqueles minutos…


Esteve nove anos na formação do Benfica e tem feito a maior parte da carreira na II Liga, principalmente a defender as cores do Portimonense. Facebooktwitterlinkedinmail

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2 comentários sobre “Luís Zambujo

  1. Zambujo no próximo jogo em Portimão lá estarei eu a bater palmas quando meu amigo saltar do banco, forte abraço e tudo de bom para a temporada que se avizinha.

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