Quando era miúdo, nos Infantis, jogava como federado no Colégio São João de Brito, que era onde eu andava. Entretanto fui treinar ao Sporting e fiquei. Na altura o futebol não tinha o glamour que tem hoje. Aliás, deixei de jogar porque o futebol não era muito bem visto, normalmente os jogadores da bola era malta que não se dava muito bem na escola, que não estudava, e a minha mãe queria que fosse doutor ou engenheiro. Não havia as Escolinhas e todas essas coisas, nem pouco mais ou menos. Aquilo era a malta mais rufia, mais de rua. Eu era um menino do Colégio São João de Brito, colégio privado, e uma vez a minha mãe foi ver-me jogar quando estava no Sporting e realmente aquilo era duro. Ela disse logo “isto não é para o meu filho” e voltei para o colégio. Mas lembro-me que treinávamos num pelado, em Alvalade, e tínhamos um jogador, um caramelo que se chamava Jeremias e a alcunha dele era Locomotiva. Porquê? Nós tínhamos todos nove/dez anos e o gajo tinha 12 mas no BI tinha nove. Esquece… Nessas idades um ano faz muita diferença, era impossível pará-lo! Quando treinávamos e ele ficava na minha equipa era um descanso. Esse literalmente pegava na bola num lado do campo e corria como uma locomotiva até ao outro. Quando o homem ligava o vapor ninguém o parava!
Mais tarde vim a ser treinado pelo João Couto, que no outro dia até deu uma entrevista para A Bola e falou de mim, hoje é treinador dos juvenis do Sporting, e pelo Jean-Paul, que na altura foi meu treinador no Colégio São João de Brito. Ele depois foi para o Odivelas, que era a terceira equipa de Lisboa, depois de Sporting e Benfica, e lembro-me de ele dizer-me:
– Kapinha, tu não és o Pelé mas jogas bem.
Isto devia ter sido um elogio mas eu fiquei muito triste porque ele disse que eu não era o Pelé! Fiquei muito sentido com ele. E disse-me que gostava de levar-me para o Odivelas. E eu:
– Sim, mister, mas como é que eu vou para lá?
– Então, para lá, eu estou aqui no colégio e levo-te.
– E depois para cá?
– Para cá vens de autocarro.
– O quê?! De autocarro?
Eu, um menino que ia para a escola com a babá, iam buscar-me à escola, claro que não vinha de Odivelas de autocarro. Hipotequei assim o meu futuro como jogador! Mas tinha algum jeitinho. No Colégio São João de Brito, os meus amigos que jogavam à bola comigo tratavam-me por Maradona. Era gordinho mas por acaso era vedeta.
E lembro-me de algumas coisas giras. Quando tínhamos jogos importantes eu ficava à espera. Os jogos eram ao domingo, a convocatória era às 9h30 e eu era sempre o último a chegar. Atrasava-me porque adorava quando cruzava a porta do pavilhão do colégio e havia sempre três ou quatro colegas a espreitar.
– Ele vem? Ele não vem? Se ele não vem vamos perder!
E eu, armado em cromo, mesmo aquele cromo do pior que há, atrasava-me de propósito.
– Ele já chegou, vamos ganhar fácil!
Ficava todo contente.
Lembro-me que uma vez estávamos a perder um jogo ao intervalo e tínhamos aqueles quadros brancos onde se escrevia com canetas de feltro. Acho que até foi com o João Couto. Ele lá deu algumas indicações e quando íamos a sair do balneário eu disse ao Hélder, que era o guarda-redes:
– Se estivermos muito aflitos para dar a volta, tu dás-me a bola à saída da área que eu faço “ésses” de uma ponta à outra do campo e marco!
Quem não achava piada a estas cromices era o treinador, tanto que uma vez castigou-me. Num jogo, acho que contra o Sporting, o mister deu o onze titular e eu, pumba, no banco. Fiquei danado! Às tantas começamos a perder 1-0 e os outros que estavam comigo no banco começam a dizer:
– Ó mister, ponha o Kapinha.
E eu todo contente, claro, e a pensar: “epá, tu queres castigar-me, mas tem de ser!”
Depois entrei para a segunda parte e não é que marquei dois golos e ganhámos 2-1? Opá, muito bom! O verdadeiro cromo com “k” era eu!
Acho que passei ao lado de uma grande carreira de futebolista! Era ponta-de-lança, jogava bem com os dois pés, rematava bem com os dois pés, fintava bem e era muito disciplinado, sempre fui. Ainda jogo com os meus amigos. Havia uma altura em que jogava em duas equipas federadas de futsal mas uns não sabiam dos outros, porque não podia. Então numa treinava segundas, quartas e sextas e jogava aos sábados, na outra treinava às terças e quintas e jogava aos domingos. Estás a ver o nível…
Outra coisa gira, e é uma das coisas que mais gosto quando me convidam, são os eventos de solidariedade que metem desporto. Encontramos sempre actores, apresentadores e ex-jogadores. E sempre que jogo com o Carlos Xavier ele diz:
– O Kapinha é meu!
E eu, claro, todo vaidoso.
Depois diz-me assim:
– Kapinha, já sabes como é: estás ali na linha do meio-campo, quando eu olhar para ti é só começares a correr que a bola vai lá ter.
E é certinho, é impressionante! Os ex-jogadores já não têm preparação física para jogar mas, por exemplo, o Carlos Xavier levanta a cabeça e mete a bola onde quer. E nem é “onde é que ele está?” é “para onde é que ele vai?” e a bola vai telecomandada mesmo para os pezinhos.
Em suma, sempre foi o meu desporto de eleição e continuo a jogar com os meus amigos. Ainda joguei aí nuns torneios, no MasterFoot, e até ganhámos, mas hoje já são jogos muito agressivos. Na I Divisão destes torneios já há muita pancadaria, o pessoal parece que está a jogar a Champions, e volta e meia tínhamos um no estaleiro e o pessoal trabalha no dia a seguir. Já há muitos anos que jogo fut7 num sintético nas Olaias com os meus amigos e contra equipas de amigos. E agora também jogo padel, que é muito fixe e estou mega fã. Divido-me entre estes dois desportos.
Músico, actor e apresentador, foi membro da boys band D’Arrasar, participou na série Morangos com Açúcar e em breve podemos vê-lo na novela Jogo Duplo, na TVI.