Em Inglaterra tive um treinador no Sheffield Wednesday que era de pancadas. Era o Gary Megson, tinha sido treinador do Bolton. Foi no ano em que subimos da League One ao Championship. Só o tive nessa época, depois saiu.
Uma vez fez a equipa na sexta-feira, durante essa noite sonhou que tínhamos perdido e, na manhã seguinte, antes do jogo, tirou o lateral esquerdo da equipa. E disse-lhe: “sonhei que íamos perder o jogo, por isso vais sair”. Sonhou com aquilo e deve ter sido o primeiro jogador que lhe veio à memória! Entrou outro colega nosso, que nem era da equipa de reservas, e acabámos por ganhar o jogo. Preferiu jogar com um jogador dos sub-23, que nem era da primeira equipa, só por causa do sonho. O homem tinha estas pancadas, nunca tinha visto nada assim no futebol!
Outros jogadores que trabalharam com ele contaram-me histórias incríveis. Às vezes era a mulher dele que sonhava com alguma coisa, contava-lhe e ele mudava. Quando ganhávamos, já sabíamos na semana seguinte ia ser exactamente igual, não mudava nada. Íamos jogar a tal sítio e ficávamos naquele tal hotel: se ganhássemos mantinha tudo igual. O motorista tinha de fazer o mesmo caminho. Se mudassem alguma coisa era a pior coisa que lhe podiam fazer.
Uma vez, íamos para um jogo, ainda estávamos no autocarro, fizemos um caminho de uns 30 minutos para o estádio, e ele ia com os olhos fechados naquela de se abstrair das coisas e relaxar. Perto do estádio, o motorista entrou de marcha-atrás, para ficarmos perto dos balneários. Quando ele abre os olhos e se apercebe do que está a acontecer, começou aos gritos e a chamar nomes ao motorista: “filho da mãe! Seu cabrão do caraças, estás contra mim!”. A gente levantou-se para tentar perceber o que é que se passava. Tudo porque o homem entrou de marcha-atrás e ele dizia que isso dava azar. Falou com o presidente e trocou de motorista. A pancada que aquele treinador tinha!
Demo-nos bem, mas ele era maluco. Aos 20 segundos de jogo, se não ganhasses uma bola dividida daquelas de 50-50 já te estava a gritar na linha. Espumava pela boca! Era daqueles treinadores mesmo malucos, nervoso, e nós éramos como pit bulls dentro do campo: sempre a correr, queríamos ganhar todas as batalhas individuais… A verdade é que fizemos uma grande época com ele. Depois apanhámos o embalo e já ele estava muito mais calmo porque entrávamos em campo já quase a ganhar 2-0. Tínhamos uma boa equipa e fisicamente estávamos uns monstros. Do primeiro ao último minuto, entrávamos a correr, a morder calcanhares, ia tudo! Foi mesmo uma época espectacular.
Depois de fazer praticamente toda a formação no Sporting, o actual jogador do Vitória de Setúbal esteve dez épocas no futebol inglês ao serviço de Charlton e Sheffield Wednesday.