João Peixe

A minha estória remonta à época 94/95 , quando me estreei na I Liga ao serviço do Estrela da Amadora, emprestado pelo Benfica. Depois de uma derrota pesadíssima em Vidal Pinheiro, contra o Salgueiros, em que perdemos 6-0, entrei a meia-hora do fim. Apesar de não ter ajudado a alterar o marcador, dei o meu máximo e no final senti que tinha estado bem no tempo que joguei. Prova disso foi que fui eleito o melhor em campo da minha equipa na crónica sobre o jogo do jornal Record.

No primeiro treino da semana, o treinador Fernando Santos, actual seleccionador, começou a palestra sobre o jogo e depois de dar uma valente reprimenda ao grupo, começou a perguntar individualmente a todos os jogadores (Mário Jorge, Chainho, Calado, Agatão, Paulo Ferreira, etc., faziam parte da equipa) o que cada um tinha achado da sua prestação. Todos disseram que tinham estado muito mal e que tal não deveria voltar a acontecer. Quando chegou a minha vez respondi o que me ia na alma: “Mister, eu acho que estive muito bem!”. “O quê?” respondeu Fernando Santos. “Sim, Mister. Estive bem. Segurei bem a bola, dei-a jogável, ganhei todos os lances de cabeça, só me faltou marcar um golo”, respondi. “Tu és maluco, a equipa perde 6-0 e tu dizes que estiveste bem?!”, exclamou Fernando Santos. “Mister, não devo ser assim tão maluco, o jornalista do Record elegeu-me o melhor em campo da nossa equipa”, reforcei a minha opinião. Foi a risada geral, o que ajudou a aliviar o ambiente pesado de quem perdeu por meia dúzia.

Esta estória foi mais tarde recordada pelo capitão Rui Neves em entrevista alargada ao mesmo jornal. Eu tinha apenas 19 anos, fui sincero, com o tempo aprendi que por vezes temos de dizer o que os treinadores querem ouvir. Já tinha uma personalidade muito forte e dizia sempre o que pensava e já se sabe que na vida e no futebol não pode ser assim. Felizmente, o Mister percebeu que era a inocência a falar de um jovem sénior de primeiro ano e continuou a apostar em mim. Fiz alguns golos na recta final do campeonato, que foram importantíssimos para a manutenção. No golo que marquei e deu a vitória na Madeira contra o União fui ao banco abraçar Fernando Santos, o único treinador que apostou em mim na I Liga portuguesa e que me ajudou a ingressar no Ionikos da Grécia, também na I Liga. Grande homem e grande treinador. Serei eternamente grato.


Campeão europeu de sub-18, foi formado no Benfica e tem o recorde de clubes representados em Portugal (26), aos quais juntou uma passagem pelo Ionikos, da Grécia. Facebooktwitterlinkedinmail

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