Para alguns, cansativamente. Para outros, emocionadamente. Para mim, imperativamente. Disse, digo e direi que antes de saber que me chamava Malheiro, tão-só João, ou Joãozinho na expressão de afecto familiar e de outras origens próximas, já sabia dizer Eusébio, já sabia quem era Eusébio, já venerava Eusébio.
Quis o destino, após prolongada e sistemática idolatria, que Eusébio viesse a fazer parte do meu quotidiano, ademais com uma dose substanciosa e fundamental de presença. Fui, por anuência entusiástica dele, o seu biógrafo oficial, multipliquei jornadas de convívio, organizei múltiplas iniciativas, acompanhei-o às mais diferentes regiões do país ou latitudes do mundo.
Eusébio reforçou, num convívio diário, ao longo de um quarto de século, o meu apego à causa da bola, a minha afeição ao Benfica. Apenas isso, algo que até não seria pouco? Mais importante ainda, o meu orgulho incontido de privar assiduamente com aquele que a FIFA considera ser um dos dez melhores futebolistas de sempre.
Foram tempos de cumplicidades várias e fascinantes. Eusébio até foi padrinho de um dos meus matrimónios, numa cerimónia que teve o rio Minho como pano de fundo. O futebol fazia o grosso das nossas despesas de convívio, mas jamais descurámos outras áreas, inclusive de grande intimidade pessoal.
Um dia, em Janeiro de 2000, recebi o mais importante telefonema da minha vida. Do outro lado, a minha então companheira revelava-me que havia dado positivo o teste de gravidez a que se tinha submetido. Rejubilei, num misto de adolescência refractária e de vetustez responsável. De pronto, colocou-se-me a questão de partilhar a notícia, assim numa espécie de primeira mão do deslumbramento.
O palco escolhido foi Belém, espaço mítico da grande Lisboa. O meu parceiro foi Eusébio, com ele conversei, com ele comemorei, com ele brindei. Meses depois, nasceu a Inês, minha única filha. Diria que com a bênção do maior herói popular do século XX lusitano.
Jornalista e escritor, tem no Sport Lisboa e Benfica a sua grande paixão e em Eusébio da Silva Ferreira, além de um amigo, o seu herói.