João Abreu

Doze de Abril de 2009, 21h00. Período conturbado da vida do Sporting (mais um). O mandato de Filipe Soares Franco encontra-se perto do seu final, mas está em causa um projecto de reestruturação financeira contestado pelo seu antecessor Dias da Cunha. Depois de vários dias de contactos, com avanços e recuos, ambos aceitam o desafio para um debate na SIC Notícias. Juntam-se à porta da SIC algumas dezenas de adeptos do Sporting que se manifestam contra o projecto de Soares Franco. O primeiro a chegar é Dias da Cunha, discreto, silencioso, compenetrado. Cumprimento-o e dirige-se para a sala de caracterização. Dez minutos depois, chega Filipe Soares Franco, um pouco mais expansivo, mas muito concentrado.

Cruzam-se perto da caracterização, cada um com o olhar apontado numa direcção oposta. Não se cumprimentam, evitam-se, os olhos estão no chão. Há fotógrafos e jornalistas pelos corredores da SIC. Tento, em vão, fazer uma conversa de circunstância. Ambos estão nervosos e a sensação que me transmitem é que querem despachar o debate o mais rapidamente possível. Faltam 15 minutos para o início da emissão. Chamo Soares Franco para irmos para estúdio, vou à outra sala para fazer o mesmo com Dias da Cunha. Abro a porta do estúdio, ambos acabam por entrar separadamente. Soares Franco pergunta-me onde se deve sentar. “À minha esquerda, Dr.” Os fotógrafos não param de tirar fotografias, os dois protagonistas agarram-se às folhas que trazem. Peço para que todos saiam do estúdio. Faltam 10 minutos e o silêncio instala-se. Penso: “Isto vai ser bonito!”, “Como é que posso tirar deste confronto alguma informação útil que não seja apenas um lavar de roupa suja?”.

O silêncio continua, só eu mantenho contacto visual com ambos. Nenhum cede. Na altura praticava muito kickboxing e pareciam claramente dois lutadores concentrados para a luta. “O que leva dois homens, que até já foram próximos (Soares Franco foi vice de Dias da Cunha) a terem tanto ressentimento, raiva e até ódio?”, pensei eu. Tento quebrar o gelo, falo sobre o alinhamento dos temas a abordar. “É como quiser…” diz-me Soares Franco. “Esteja à vontade” atira Dias da Cunha. Respiro fundo, tenho que fazer o meu trabalho, eles, o deles. O debate foi tenso, pessoal, acusatório e pouco esclarecedor. Foram lidas cartas pessoais. Dúvido que os sócios do Sporting e os telespectadores em geral tenham gostado daquilo. Eu não. Quem ganhou? A seguir a Soares Franco veio José Eduardo Bettencourt, dois anos depois, Godinho Lopes, dois anos depois, Bruno de Carvalho. É só fazer as contas.


Começou na revista Focus e de seguida estagiou no CNL, onde foi um dos 25 escolhidos para integrar o arranque da SIC Notícias. Actualmente apresenta os programas Play-Off e Tempo Extra. Facebooktwitterlinkedinmail

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