Na altura em que fui para Itália, na época 98/99, já lá vão uns aninhos, quando em Janeiro troquei o Chaves pelo Perugia, fiz a estreia no campeonato num jogo com o Inter, em casa, com o estádio completamente cheio. Para mim foi uma diferença muito grande. O meu último jogo aqui foi com o Sporting, empatámos 2-2, na semana seguinte estava a jogar contra o Inter do Ronaldo, Roberto Baggio, Simeone… E eu em Itália era um desconhecido, não é?
Entrámos no estádio, que tinha umas 30 mil pessoas, e durante todo o jogo as claques e o resto das pessoas gritavam pelo nome de Hilário. E eu fiquei… Aquilo motivou-me bastante! Fiz um grande jogo, ganhámos 2-1. Espanto meu, no fim, quando percebi que o Hilário por quem estavam a chamar não era eu! Chamavam pelo Ilario Castagner, treinador do Perugia que tinha sido despedido pelo presidente. Nunca pensei que em Itália também houvesse Hilários, já é um nome tão diferente. E foi muito engraçado. Alguns jogadores aperceberam-se e gozaram um bocadinho comigo. Mas pronto, é normal.
Passei seis anos em Itália, quatro no Perugia e dois no Sambenedettese, na II divisão. Foi muito bom, fiz muitos amigos, passei lá bons tempos. O meu filho nasceu num dia em que jogámos contra o Brescia, onde jogavam o Guardiola e o Luca Toni. Tinha uma excelente equipa também. E no final desse jogo, que empatámos 2-2, quando cheguei ao balneário vi que todos os jogadores tinham uma t-shirt com a frase “benvenuto, Tiago”. Nessa altura o nosso capitão era o Materazzi e foi ele que mandou fazer as t-shirts. É um grande amigo, ainda tenho uma excelente relação com ele. As pessoas têm a ideia de que o Materazzi dentro de campo se vir alguém no chão ainda o pisa, mas fora de campo é muito ligado à família, uma pessoa cinco estrelas. Aliás, o gesto que teve comigo é a prova disso.
E joguei com outros bons jogadores. Há o célebre chinês de que o Paulo Futre falou nas eleições do Sporting. O primeiro a implementar uma situação dessas foi o meu presidente do Perugia, quando levou o primeiro japonês para Itália, o Nakata. E realmente o que o Futre dizia tinha razão, porque na altura era só japoneses em Perugia. Aliás, nós fomos numa digressão ao Japão e dizia-se que o Nakata era mais famoso no país do que o próprio imperador! Fomos a Tóquio e aquilo era impressionante, ele aparecia em todos os spots publicitários.
Mas joguei com o Materazzi, com o Grosso, que também foi campeão do Mundo e marcou o último penalty da Itália nesse Mundial, joguei com o Alenitchev, depois foi para o FC Porto, na frente tínhamos um croata que foi dos melhores jogadores que vi, o Milan Rapaic, ainda tínhamos o Nicola Amoruso, o Ibrahim Ba… Eu é que era o desconhecido da equipa.
Depois da experiência em Itália, o antigo lateral direito ainda jogou no Famalicão e no Santa Maria. Voltou à terra natal e é director desportivo do Freamunde.