Gilberto Silva

Numa pré-época no Sporting da Covilhã o nosso treinador, juntamente com a Direcção, teve a ideia, para fortalecer o espírito de grupo, de irmos passar um dia com a GNR de montanha aqui na Serra da Estrela. São eles que fazem os salvamentos quando alguém se perde, por exemplo.
Saímos de cá às dez da noite, tivemos uma pequena apresentação com eles, depois partimos todos para a Serra, para a Torre, numa série de carros. Íamos todos receosos com o que nos esperava. Quando chegámos lá acima tivemos um pequeno aquecimento para aquilo que nos esperava: por volta da meia-noite fizemos um treino com grandes cargas de peso, elevações, flexões no alcatrão e já estávamos a pensar que íamos “morrer” porque aquilo era bastante duro. Entretanto disseram-nos para irmos descansar, nuns quartos que eles lá têm na Torre.
Já estávamos a descansar e, passada meia-hora, mandam um petardo lá para dentro e começam a gritar: “toda a gente lá para fora!”. Saímos a correr, uns cheios de sono, outros sem sapatilhas, e levámos com aquela parte militar que eles têm:
– Então o senhor apresenta-se assim? Todo o grupo a encher!
Depois fizemos uma corrida de 12 quilómetros lá na serra, um vento e um frio que não se podia, já eram umas três da manhã. Demos essa volta e quando chegámos, é caricato, alguns colegas com dores nos gémeos a puxarem cadeiras e os GNR a dizerem que aquilo não se fazia e que estavam de castigo. Era só coisas assim deste género. Depois deram-nos uma sandes e um copo de água e fomos descansar um pouco.
Dormimos um bocadinho e de manhã demos uma corrida mais tranquila e fizemos umas coisas divertidas, como rapel. Para acabar mesmo, e para nos matarem, tivemos de subir, não digo a totalidade da Serra da Estrela, mas foram uns bons quilómetros com uma mochila com dez quilos às costas! Íamos todos mortos, mas a puxar uns pelos outros. Foi uma experiência única, que guardo, com momentos a rir e momentos a chorar.
Acabámos por ficar amigos dos militares e voltámos a fazer noutros anos, mas já mais tranquilo. Já nos conheciam e sabiam como haviam de fazer as coisas. Lembro-me que no segundo ano também nos deram uma tampa de uma garrafa com água e era o que tínhamos para lavar a cara de manhã. Quando os treinadores não estavam a ver facilitavam mais um pouco para não ser tão duro, mas o objectivo ali era mesmo conhecermo-nos e criar um bom espírito de grupo.


O capitão do SC Covilhã, a iniciar a sétima época consecutiva no clube, conta com uma passagem pela I Liga ao serviço do Boavista e experimentou o futebol cipriota pelo Ermis Aradippou.

Foto: Nelson Manteigas Facebooktwitterlinkedinmail

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