Fernando Ribeiro

As nossas peladinhas em tournée têm diversos acontecimentos um bocadinho estrambólicos. Agora já não, mas antigamente nas tournées havia sempre um dia de folga, que equivalia a fazer o menos possível. Mas alguém arranjava sempre uma bola de futebol, andávamos com uma, ou comprava-se e organizava-se ali um mini-torneio das nações.

Uma vez fizemos uma tournée com os Cradle of Filth e parámos em Granada, Espanha. Existia um daqueles terrenos irresistíveis para pessoal parvo e aborrecido, como nós, ir fazer uma grande peladinha. Era mesmo aquele cascalho das feiras. Fizemos um grande jogo de futebol, com portugueses, suecos, britânicos, pessoal de ténis, pessoal de botas, uns vestidos, outros de tronco nu.

O nosso baixista, o Aires, diz sempre que foi uma grande esperança do futebol. Ele é venezuelano e jogou não sei onde, não foi no Marítimo, mas jogou num sítio qualquer. Depois não tinha pulmão para ser profissional, mas tem os tiques, desmarcações, aquele típico futebol sul-americano. Lembro-me perfeitamente de ele estar a disputar uma bola nesse cascalho com uns gajos muito fixes, dois gémeos suecos, dos At the Gates, mas que na altura estavam a tocar com os The Haunted, que andavam em tournée connosco. Nós viramo-nos e vemos um deles tipo Cristo, todo esfolado! Era nas mãos, um bocado na cara… E ia tocar num concerto à noite. Pronto, mas o nosso sul-americano partiu-o todo. Levantou-se e continuou a jogar, até nos virem chamar para o soundcheck ou outra coisa qualquer, para a vida continuar depois desse momento de lazer, que por acaso nem foi num dia de folga.

Depois desse concerto, o Dani Filth veio falar comigo. Era assim tipo um principezinho dark e ficava no seu quarto. Eles tinham um tour bus espectacular, com uma escada em caracol e uma cama, parecia uma mansão, foi nos grandes tempos de Cradle of Filth. E ele filmava tudo, então filmou-nos a jogar à bola. À noite, já depois de ter bebido uns copos e vice-versa, veio perguntar-nos se na próxima vez podia jogar connosco. Infelizmente não houve mais nenhum jogo nessa tournée.

Há imensas histórias. Uma vez, em França, levantámo-nos e já andava tudo a jogar à bola. Tínhamos feito uns hamburgers, comi e fui jogar, vomitei-me todo. Mas voltei, com uma grande fúria! Agora já não, estamos um bocado mais velhos e existiram muitas lesões. Na primeira tournée que fizemos na América fui de muletas para o avião. Jogávamos todas as semanas e o meu último jogo de futebol amador foi Moonspell vs. Loud!, a revista de Metal. Empatámos. O Ricardo, o nosso guitarrista, foi o grande herói desse jogo, marcou os golos quase todos porque estava sempre à mama e eu fui o grande mártir. Estava no meio de uma grande finta, foi tão boa que desmaiei. Se calhar andava a trabalhar de mais, foi na altura do DVD, andava a ver muita coisa. No dia a seguir tive de ir ao hospital, foi um bocado complicado, uma quase morte súbita. Andei um ano a fazer exames, mas não encontraram nada. A partir daí joguei uma vez ou outra, mas achei melhor pendurar as botas.


Chegou ao grande público com o projecto Amália Hoje, mas é com os Moonspell que sobe aos palcos há mais de duas décadas. Em Março apresentam o novo álbum, Extinct, em Lisboa e Porto. Facebooktwitterlinkedinmail

Become a patron at Patreon!

4 comentários sobre “Fernando Ribeiro

  1. Chegou ao grande público com o projeto Amália hoje?? Falta de respeito, os Moonspell são conhecidos no mundo inteiro, fazem parte dos melhores cartazes de festivas por esse mundo fora, e tudo isso bem antes do Amália hoje.

  2. Eheheh espectáculo!!! Saudades das nossas jogatanas semanais de futebol… Realmente a malta dava uns toques porreiros!!! 🙂 Abraco

Deixe um comentário