Fernando Gomes

Estreei-me no campeonato pela equipa sénior do FC Porto com 17 anos e com dois golos, que deram uma vitória por 2-1 frente à CUF. Até hoje ninguém marcou dois golos na estreia com esta idade e só passados 43 anos é que um jogador do FC Porto marcou na estreia com 17 anos!
Mais tarde, fui contratado pelo Sporting de Gijón ao FC Porto durante a pré-época. Já tinha assinado o contrato, os dirigentes do Gijón foram ao Porto, depois fui para Espanha no meu carro. Tinha um desportivo de dois lugares, assim duro, era um Porsche, e quase que não havia auto-estradas naquele tempo. Foi em 1980. Não foi uma viagem muito confortável. Foram sete ou oito horas, não sei precisar. Sei que cheguei por volta da meia-noite e fui directo ao centro de estágio.
Fui para o quarto e fiquei com o capitão de equipa. Lá dormi, acordaram-me para tomar o pequeno-almoço, voltei ao quarto e adormeci outra vez, acordaram-me à hora de almoço, almocei e voltei para o quarto para voltar a dormir, até que por volta das cinco da tarde fui novamente acordado para ir lanchar. Entretanto, nessa altura, apercebi-me de que ia haver jogo, o Gijón disputava um torneio com o Oviedo. Lanchei e depois na palestra o treinador disse-me que ia jogar. Ok, lá fui para o jogo, em Oviedo, que fica a 30 kms de Gijón. Lembro-me de que foi um jogo à noite. O estádio estava cheio, era um derby, e apesar de ter sido em Agosto estava uma chuva miudinha. Joguei sem conhecer ninguém e o mais curioso é que ganhámos 5-1 e fui eu que marquei os cinco golos. Foi extraordinário! Mesmo bem integrado não é normal marcar cinco golos, mas sem fazer um único treino é absolutamente incrível.
Começou tudo muito bem, mas depois lesionei-me. Primeiro tive uma lesão muscular e falhei alguns jogos. Depois num jogo com o Bilbau, em casa, marquei um golo e a festejar rompi o tendão de Aquiles. Com aquele entusiasmo todo, ainda por cima era o meu primeiro golo na liga espanhola, saltei e com a impulsão contraí de tal maneira que o tendão, que já estava debilitado, rompeu. Também é curioso, não é? Festejar um golo e ter uma lesão que me originou quase um ano de inactividade…
Isto lembra-me outro episódio. Quando ganhámos a primeira Taça dos Campeões Europeus no FC Porto, faço todos os jogos até ao encontro que deu o apuramento para a final, com o Dínamo de Kiev. Marquei cinco golos nessa campanha, inclusive o golo da segunda mão, em Kiev, e a dez dias da final, num treino de conjunto com os juniores do FC Porto, parti a tíbia e o perónio a marcar um golo! Fui de carrinho para chegar à bola, toquei-lhe, ela entrou, mas o pé ficou preso na relva e parti a perna. Não joguei a final frente ao Bayern de Munique por causa disso. Foram lesões graves e sempre com golos pelo meio.


Seis vezes melhor marcador do campeonato e duas vezes da Europa, que lhe valeu a alcunha de Bibota, é o principal goleador da história do FC Porto e uma referência do futebol português. Facebooktwitterlinkedinmail

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3 comentários sobre “Fernando Gomes

  1. Para além de uma lenda do futebol português, um extraordinário ser humano com qualidades acima de qualquer clubite doentia. Uma referência enquanto goleador e desportista.

  2. Referência atacante para qualquer miúdo que jogava à bola naquela altura. Todos queriam ser o Gomes. Um craque!

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