Num dos meus primeiros anos como treinador, devia ter uns 30 anos, era adjunto do António Luís no Vilanovense, e fomos jogar a Braga contra o Braga B. Eles jogaram de vermelho e o Vilanovense de vermelho e preto, com predominância do vermelho. Estávamos no jogo e tínhamos três jogadores a aquecer. Ele vira-se para a zona onde estavam os jogadores a aquecer e começa:
– Ó Charles! Chaaarles!
O Charles era um ponta-de-lança que nós tínhamos. Ele estava a chamá-lo para o meter em jogo e ele nada, não responde.
E ele, aos berros:
– Charles! Ó Chaaaarles!
Eu estava sentado no banco, ele em pé, toda a gente a rir, eu também com vontade de rir, e depois de algum tempo naquilo levanto-me e digo-lhe:
– Aqueles são os do Braga.
Tenho uma como jogador. Era júnior do Rio Ave e fomos jogar a Amarante, um jogo com o árbitro Martins dos Santos, que na altura apitava muitos jogos da I Divisão. Há um lance perto do final da partida em que eles vão marcar um livre na zona do meio campo para a nossa área. Eu era ponta-de-lança e ao passar pelo jogador dei-lhe um toque no pé na altura em que ele ia marcar a falta e deu um grande tombo no chão. Fui expulso e foi uma confusão terrível, tivemos de sair do estádio escoltados pela polícia. Não me orgulho do que fiz, foi das poucas expulsões que tive na carreira, mas no momento senti o impulso de fazer aquilo.
Em 2005, no Trofense, num ano difícil em que a equipa toma a decisão de treinar à noite, ao final da tarde, eu sou o treinador e conseguimos subir de divisão. Incrível! A determinado momento da época eu deixava meter música no balneário antes dos jogos. Os jogadores gostavam daquilo e naquela altura não era muito usual mas o grupo estava a merecer. Estávamos na luta com o União da Madeira e antes de um jogo pus a música da Liga dos Campeões. Agora arrepiei-me ao recordar esta história porque vi vários jogadores a chorar. Pensei que alguns jogadores não iam chegar lá, mas mereciam ouvir aquela música. Aquilo teve um impacto grande, tanto que depois em todos os jogos passou a ser a música oficial da equipa até ao final do nosso trajecto. Foi fantástico! Isto não tem piada mas é uma daquelas histórias que nos marcam.
De histórias engraçadas, lembro-me de uma intervenção daquelas difíceis mas que é preciso tomá-las. Dois jogadores meus no Moreirense pegam-se à porrada mesmo no final do treino, o Cascavel e o Luisinho. Termino ali o treino e peço aos jogadores e aos capitães de equipa para ficarem no campo para falar com eles. E disse aos outros: “Vão para o balneário e montem um ringue de boxe.” Entretanto ficámos ali a falar. Embora não fosse uma situação muito grave, é sempre um incómodo. O que é certo é que quando vamos para dentro até eu fiquei surpreendido porque a montagem do ringue foi tão ao pormenor que ficou espectacular! Tinha as estacas do campo, pinos, aquela fita de protecção vermelha e branca, tinha banquinhos para cada um dos supostos lutadores, havia uma pessoa equipada à árbitro, havia a equipa de apoio de um e de outro, não faltou nada! E os jogadores foram apresentados: “De um lado do ringue temos Cascavel, com 20 e não sei quantos anos e não sei quê. Do outro lado do ringue temos Luisinho…” Aquilo foi fantástico! Uma situação que não é agradável acabou por ser ali controlada por todos e o próprio grupo de trabalho saiu reforçado.
Lembro-me também em Ribeirão, estávamos a lutar para subir de divisão com o Chaves e numa quarta-feira vamos para o treino e começa a chover. Fomos treinar a um sintético e íamos em carrinhas. E o Nelsinho, um dos capitães de equipa, que hoje está no Varzim, e outros, disseram-me:
– Ó mister, hoje vamos fazer um grande treino.
E eu respondi:
– Se me garantirem que ganham no domingo em casa ao Vizela, por mim vamos já embora. Nem precisam de treinar.
Entretanto o preparador físico deu início aos trabalhos e meteu-os a correr. Eles deram uma volta, deram a segunda, na terceira nós estávamos ali a falar e quando demos por ela estavam os jogadores todos a entrar nas carrinhas. Nunca pensei que eles assumissem como um dado adquirido que iam ganhar o jogo e que não precisavam de treinar. Fui ter com eles e até lhes disse:
– Já não tenho de dar palestra nenhuma. A motivação está aqui toda. Bom jogo!
Foi um acto de grande coragem dos jogadores, foi uma surpresa para mim, mas estávamos fortes e resultou: fizemos um grande jogo, vencemos por 3-0 e foi um episódio marcante.
O treinador do Marítimo apresenta uma carreira em constante ascensão, com subidas de divisão e um título na II Divisão até à tão ambicionada I Liga, chegando agora às competições europeias.
Meu amigo Daniel, já como jogador se notava que era diferente, já era um líder. Força meu, grande abraço
Parabéns pelo sucesso obtido…merece…boa sorte mister!!!
Um senhor Daniel boa sorte
grande Daniel abraço
Grande mister!!!
Bons tempos.. engraçada mesmo essa história!!!
Abraço