Constantino

Quando cheguei ao Levante estive oito ou nove jogos sem marcar um golo. Até já estava a equacionar abandonar o clube por não conseguir marcar. Tinha sido contratado para marcar golos, depois de ter feito tantos no Leça, mas lá não marcava. Até que temos um jogo numa sexta-feira à noite, ganhámos 1-0 ao Castellón, em que marquei o golo já a uns cinco minutos do fim. O meu primeiro golo, depois daquele período de adaptação complicado.

Houve festa no balneário, mas quando chego cá fora sou surpreendido com as peñas, como se diz em Espanha. Estavam dezenas de pessoas da claque do Levante à minha espera e obrigaram-me a ir jantar com eles. Mas foi uma loucura. Fui com a minha mulher e a minha filha Inês, que tinha três anos, e eles estiveram sempre a cantar durante todo o jantar. E isto na II Divisão B espanhola! Tudo por causa de um golo, que nem foi dos mais importantes, mas que na altura teve esse significado de ser o primeiro, quando eu próprio já estava a duvidar do meu valor.

Acabámos por subir de divisão no final dessa época, mas isto terá sido lá para Outubro ou Novembro, o que tornou tudo aquilo mais surpreendente. Só que não havia forma de marcar, era só bolas ao poste ou os guarda-redes defendiam tudo, eu já dizia “vou-me embora para Portugal, já que não marco nenhum golo…”.

A psicose do golo é muito complicada, se o avançado vai lá para dentro só a pensar que tem de marcar as coisas ficam ainda mais difíceis. Cheguei a pedir ao presidente para sair, mas ele disse “nem penses que te vais embora, não sais daqui. Nós fomos a Portugal ver-te e sabemos que marcas golos, quando entrar o primeiro depois começam a entrar”. Acabei por marcar 13 ou 14 golos nessa época, mas esta história marcou-me. E quando marcava um golo era sempre um momento de grande felicidade. Também tinha uma maneira peculiar de festejar os golos. Chamavam-me o “Avioncito”, porque eu abria os braços durante os festejos.

Depois na segunda época, na II Divisão, comecei a jogar menos e pedi para sair, vim para o Campomaiorense. Foi numa altura em que tinham o Vicente, que jogou muitos anos na Selecção espanhola e no Valência. Com 17 anos era titular no Levante. Sinceramente, tínhamos uma grande equipa e um ambiente fantástico, com muita união. Ainda fui convidado para ir ao casamento de dois ou três. E quando a Espanha esteve cá no Euro’2004 fui ter com o Vicente à Falperra e ele deu-me convites para o ir ver no Bessa.


É o melhor marcador do Leça na I Divisão, com 42 golos, que despertaram o interesse do Levante. Actualmente é adjunto do treinador Abílio Novais. Facebooktwitterlinkedinmail

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4 comentários sobre “Constantino

  1. Excelente homem, apaixonado pelo futebol, um amigo fiel e foi sem duvida um craque, um goleador, um jogador de excelência.

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