O Maradona ainda jogava, tinha voltado ao Boca Juniors, foi entre 1995 e 96. Eu era crítico de música, também sou jornalista de formação, e na altura quando vinham bandas à Argentina, como era muito amigo de label managers das companhias discográficas e já tinha ligação com a comida, conhecia bons restaurantes, então era convidado a fazer de cicerone. Estive com o Jimmy Page e o Robert Plant em Buenos Aires, fiquei amigo deles, de imensas bandas.
Uma vez foi a Buenos Aires um duo sueco, chamado Yaki-Da, era do mesmo produtor de Ace of Base e uma delas tinha sido corista do Rod Stewart. Chegaram lá e na altura tinham uma semana de promoção, iam a programas de televisão, rádio, fazer showcases, etc…
Logo no primeiro ou no segundo dia vão à televisão, a um programa de entrevistas com famosos. Eram elas as duas, altas, suecas, e também lá estava como convidado o Maradona. Era sábado e no dia a seguir ele jogava pelo Boca Juniors, mas era o Maradona. Ele fica maluco com as raparigas, acaba o programa e o Guillermo Cóppola, que era o empresário do Maradona, vai falar com o meu amigo, label manager da Polygram Records. Vai e diz-lhe que o Diego está apaixonado por estas miúdas, quer ver como é pode fazer para sair com elas. Ele responde que é label manager, são artistas, tem que fazer o trabalho de promoção e levá-las a jantar. O outro continuava a insistir, que o Diego quer conhecê-las. O label manager deu-lhe o seu número e disse que ia agora jantar com elas e com um amigo, que era eu.
Eu nem as conhecia, mas para mim era óptimo. Tinha 22 ou 23 anos, reservava um bom restaurante, comia e bebia o melhor vinho, andava de limousine por Buenos Aires, tudo de borla. Eu gostei de uma delas, que não era a preferida do Maradona, essa gostava do meu amigo, que é muito parecido com o Johnny Depp. Estamos a meio do jantar e toca o telefone do meu amigo. Era o empresário do Maradona, que queria saber o que íamos fazer a seguir. Começou a insistir para as levarmos a uma discoteca chamada El Cielo, que o Maradona era meio dono daquilo. O meu amigo começou a dizer que não sabia, mas ele insistia, por favor, o Diego está maluco por conhecer as raparigas. E voltou a ligar dez minutos depois. Passam mais vinte minutos liga outra vez, então lá concordámos.
Acabámos de jantar, era uma e meia da manhã, na Argentina janta-se muito tarde, e lá fomos. Chegámos ao El Cielo e dissemos que éramos convidados do Maradona, estava o nome na lista e levaram-nos para uma zona VIP, fechada, onde ainda não estava ninguém, só nós. Vinte minutos depois entra uma comitiva, quatro raparigas, das profissionais, Maradona, Hrabina, que também jogou no Boca e outros dois jogadores, também do Boca, que na altura conhecia mas agora já nem me lembro quais eram.
Estou sentado à mesa e o Maradona vem estender-me a mão e apresenta-se: “Diego Maradona, como estás?” Parecia que estava a brincar comigo. Era Deus! Eu sou do River, mas o Maradona é o Maradona, é como o Eusébio, está acima do clube. Vamos para uma mesa maior, começa a chegar champanhe e o Maradona vai perguntar ao meu amigo quanto custam as raparigas. “Não custam nada, Diego, não são putas”, respondeu ele, explicando que não podia fazer nada. Foi dizer a uma que o Maradona gostava muito dela, ao que a rapariga respondeu: “E?” Ela falava alemão, eu também, então estava entre eles a fazer de tradutor. Como é que eu lhe havia de explicar isto, comecei a dizer-lhe “Diego, acho que não dá.” Perguntou o que íamos fazer a seguir e disse-lhe que devíamos ir para minha casa, tinha uma sala de música, tocávamos um bocado, uma coisa diferente. Ele respondeu que não podia, e decide começar a falar directamente com ela. Então começa a dizer os nomes dos jogadores todos da selecção sueca e o do Eriksson.
Às três da manhã já estava eu bêbedo, elas bêbedas, já não queriam saber do Maradona, nem de ninguém, e o Maradona vem dizer-me que tinha que se ir embora porque tinha jogo no dia a seguir. Pediu-me o número e eu na altura ainda não tinha telemóvel, só quem tinha dinheiro, então dei-lhe o número do jornal e a extensão. Ele também me deu o número dele e até hoje ainda não me esqueci: 410 10 10.
Dois dias depois, estou a trabalhar e um dos meus colegas atende o telefone, reconhece a voz e sussurra com os olhos muito abertos: “Chakall, é o Maradona”. Ele pergunta se está tudo bem, se as miúdas ainda estavam na Argentina, disse-lhe que tinham ido dois dias a Córdoba, mas voltavam naquele dia, então ele queria sair nessa noite. Respondi-lhe que não era nada comigo, se não queriam, não queriam, e assim terminou a minha história com o Maradona.
Em Portugal também tenho várias histórias ligadas ao futebol. Uma vez estava a cozinhar em casa para alguns argentinos do Benfica, Aimar, Gaitán e também lá estava um produtor de vinhos, que meteu conversa com o Aimar, perguntando-lhe o que fazia. “Estou ligado ao desporto”, respondeu. Passado um bocado alguém lhe explicou que tinha estado a falar com o número 10 do Benfica, que apesar de ser um génio teve a humildade de dar uma resposta assim.
Um cidadão do mundo nascido na Argentina, o chef divide actualmente o seu tempo entre os restaurantes El Bulo, em Lisboa, e Sudaka, em Berlim.