Álvaro Magalhães

Estava na Académica, com 19 anos, a fazer uma época fantástica e a ser cobiçado por todas as equipas: FC Porto, Sporting e Benfica. Era o meu segundo ano de seniores. Subi aos seniores e subimos logo de divisão, era o Pedro Gomes o treinador. Foi ele que me lançou. Um grande homem, nunca tinha medo de lançar jovens. Depois fiz essa época com o Mário Wilson e fui para o Benfica.
Na altura jogava no meio-campo, mas houve um jogo em que o Costa, do FC Porto, atravessava um momento de grande nível. Depois de estudar o adversário, o Mário Wilson achou que tinha de jogar a lateral direito pela minha força e pela minha garra. Achou que era o indicado para travar o jogador mais influente do FC Porto e surpreendeu toda a gente quando na palestra antes do jogo me coloca a lateral. “Álvaro, vais jogar a lateral direito e não tenhas qualquer problema porque vais fazer um grande jogo e vais anular o Costa.” Aí é que está o mérito de um treinador, ter conhecimento dos seus jogadores e do adversário, e anulei completamente o Costa. Foi aí que os jornalistas deram a entender que era um jogador à imagem do Artur, o ruço, por ser um jogador raçudo, dinâmico e trabalhador. E pelo estilo, até pelo cabelo comprido e ruço. Foi um jogo que me marcou muito, tive muita visibilidade.
A seguir a esse jogo contra o FC Porto estive reunido com dois dirigentes do Sporting, o presidente João Rocha e o director de futebol Armando Biscoito, em casa do representante do Sporting em Coimbra.
Saí do estádio, pus-me no meu carro para ir jantar antes desse encontro e, quando estava a sair do carro, na Praça da República, em Coimbra, fui surpreendido por um carro que parou atrás de mim. Vi uma pessoa lá dentro a chamar-me, aproximei-me e era o Toni. Tinha acabado a carreira de jogador e tinha sido integrado no corpo técnico do Benfica. Deslocou-se a Coimbra para falar com as pessoas da Académica, nomeadamente com o Mário Wilson, que era o nosso treinador. Era um homem da Académica, entrava com facilidade e esteve a falar com o Mário Wilson no balneário, na sua área restrita, no final do jogo. Seguiu-me e quando parei o carro ele chamou-me, nem saiu do carro, para não dar nas vistas, e só aí vi que era ele. Informou-me que o Benfica estava interessado e que tinham falado com a Académica. Claro que eles sabiam que o Sporting também estava interessado. Fui jantar e depois fui falar com os dirigentes do Sporting. Andámos em conversações, mas depois o Benfica foi mais rápido.
Também tinha a informação de que o FC Porto estava interessado. Na altura o treinador era o José Maria Pedroto, ainda por cima ele era da minha terra, de Lamego, e sabia que ele me tinha indicado para o FC Porto.
O Sporting queria que eu assinasse, mas não estava muito interessado em chegar a acordo com a Académica para não ter de pagar a transferência. Queriam que ficasse lá mais um ano, o tempo que tinha de contrato, e depois saía livre. Disse-lhes que não podia estar a faltar ao respeito à Académica ao ponto de chegar a acordo com outro clube e para falarem com a Académica. Se chegassem a acordo depois era mais fácil porque era só acertar as condições comigo. Eles não fizeram isso e o Benfica fez. Falaram com a Académica, chegaram a acordo, a Académica acabou por fazer um bom negócio em termos de valores e de empréstimo de jogadores. Foi para lá o Santana, o Parente, o Pedroso, o Wilson, filho do Mário Wilson… E cheguei a acordo com o Benfica, que foi mais rápido e fez as coisas como deviam ser feitas. Foi assim a minha chegada ao Benfica.


Formado no Cracks Lamego, acabou por passar nove anos no Benfica, marcando presença no Euro ’84 e México ’86. Como treinador destaca-se o título de campeão angolano, pelo Interclube. Facebooktwitterlinkedinmail

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2 comentários sobre “Álvaro Magalhães

  1. Conheço bem o Álvaro veio para o Benfica juntamente com o Folha. Durante os anos que representou o Benfica deu sempre tudo o que havia a dar, até que o Jesualdo Ferreira pegou na equipa e a coisa descambou, Um á parte era conhecido pelo 6 dedos ainda que não gostasse da alcunha!

  2. Conheci bem o ALVARO … atrves do meu sobrinho CORREIA guarda do LEIXoes … foram colegas de equipa … ganhamos amizade … esta atitude que teve com 19 anos … nao me surpreende … era um jogador muito acima da media e tinha o talento aliado a uma mente fortissima … dai nada surpreendido com a sua atitude … Parabens amigo saude e muitos exitos na tua vida profissional e familiar.

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