Nos anos 70, o Avenida de Vila do Conde, casa do Rio Ave de então, que ficava paredes meias com a minha, era uma espécie de micro Monumental de Núñez. Um misto de lota espiritual, jaula piscatória e templo Hindu. Na curva do desespero, bancada colocada junto à baliza sul, juntava-se uma fauna que em muitos aspectos poderia ter sido parte do universo mágico-argentino de Cortázar ou Borges. Os momentos épicos foram muitos, mas este define a atmosfera.
Estávamos na época de 1981/82. O sorteio da Taça dos Campeões ditou que o poderoso Bayern de Munique se cruzasse no caminho do Benfica. Poucos dias antes de receber a equipa alemã na Luz, o Benfica teve uma difícil deslocação a Vila do Conde. Era o Benfica de Bento, Humberto Coelho, Shéu, Nené, Filipovic e tantos outros. Mas também era o Rio Ave de Baltemar Brito, Quim, Duarte, Pires, Mário Reis, treinado por Félix Mourinho, pai de um tal Zé Mário, que então acompanhava o progenitor para todo o lado. E o Avenida era uma fortaleza para o Rio Ave, que praticamente não perdeu ali pontos. Feito que lhe valeu o quinto lugar, a melhor classificação de sempre.
Eu era um dos muitos hinchas que lá estavam nessa tarde. Tal como um “espião” do Bayern de Munique, que estava completamente alucinado. Imaginem as diferenças: do Olímpico de Munique para o Avenida, isto em 81… Twilight zone!
Instado a comentar a exibição do rival do seu adversário na Taça dos Campeões, que derrotou o Benfica por 1-0, golo do ultra-sónico Pires, o espião dos alemães comentava: “Ainda bem que não temos de jogar com os da casa”, cujo nome desconhecia. “Neste campo, ou lá o que é, ninguém ganha!”.
Homem da TV, da rádio, da música, de paixões. De Portugal e do Mundo. Ficará para sempre ligado ao futebol por ter apresentado a Liga dos Últimos.
Grande Álvaro! Grande história!