Rogério Charraz

Se me perguntarem se gosto mais de futebol ou de música, terei de me valer das palavras imortalizadas na voz do Marco Paulo: tenho dois amores que em nada são iguais, mas não tenho a certeza de qual eu gosto mais…. Também não sei qual delas é a loira e qual a morena, mas sei que fico danado quando os meus concertos coincidem com os jogos do Benfica (devia ser proibido por lei!).
Sou adepto ferrenho de futebol, e do Benfica em particular, por herança de um pai que é sócio vitalício (existe mesmo, mas já restam poucos) e tem problemas em adormecer nos dias em que o Glorioso não ganha. Foi pela mão dele que comecei a frequentar o velhinho Estádio da Luz, ainda menino. Era louro e usava o cabelo comprido. Chamavam-me Stromberg.
As histórias são mais que muitas e o difícil é escolher uma. Podia falar do dia em que no camarote do meu pai, mesmo no enfiamento da linha de canto, vibrei com a mão do Vata e me agarrei a pessoas que não conhecia de lado nenhum como se fossemos velhos amigos. Ou dos 4-4 de Leverkusen, vistos na TV com o meu pai, e a memória de termos acabado o jogo completamente exaustos como se tivéssemos estado em campo, tal a montanha russa (grande Kulkov!) de sentimentos….
Podia falar dos 3-1 ao Arsenal (grande Isaías!), imortalizado numa cassete VHS que ainda deve andar pela casa dos meus pais. Ou do inesquecível 3-6 de Alvalade, em que o João Pinto nos fez acreditar que os milagres existem! Ou das finais perdidas com o PSV e com o Milão de Rijkaard, Gullit e Van Basten, esta última escalpelizada num trabalho para a escola em que analisei a prestação de cada um dos jogadores como se fosse um jornalista d’A Bola.
Mas a história que ainda hoje mais me emociona foi vivida já no velhinho Estádio da Luz, no dia 13 de Agosto de 1996. O Benfica fazia a sua apresentação aos sócios e tinha como adversário a Fiorentina, onde brilhava um dos jogadores que mais admirei na minha vida: Rui Costa. Perto do fim, marcou pelos italianos ao clube do seu coração. Baixou a cabeça, levou as mãos ao rosto e chorou. Todo o estádio se levantou a aplaudir.
Quando me voltei a sentar, veio-me à memória um outro jogo, ainda com Rui Costa de águia ao peito. Jogava-se para a meia final da Taça das Taças e, por coincidência, o adversário também era uma equipa italiana, o Parma. Calhou o jogo ser no dia 29 de Março, dia de aniversário de Rui Costa (e de um dos meus sobrinhos) e, durante o aquecimento, 120 mil almas cantaram os parabéns ao menino que despontava para uma bonita e brilhante carreira (nesse dia fez um golo e uma assistência!).
Dedico este texto ao meu pai e ao Rui Costa, que me ensinaram o melhor que o futebol tem: as emoções e a cumplicidade.


Encontra-se em digressão nacional com o seu disco 4.0, gravado no Cinema São Jorge. É o quarto disco a solo depois de A Chave (2011), Espelho (2014) e Não Tenhas Medo do Escuro (2016).

Foto: Alfredo Matos Facebooktwitterlinkedinmail

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