Marco Rodrigues

Nasci em Amarante e quando cheguei a Arcos de Valdevez, que é a terra do meu pai, aos oito anos, como sempre gostei de jogar futebol e sempre fui um puto que jogava na aldeia com farrapos e sem sapatilhas, o meu pai inscreveu-me na equipa da vila, que é o Clube Atlético de Valdevez. Estive um ano nos infantis e dois nos iniciados. O meu pai também era amigo do presidente de um clube que era o ADECAS Futebol Clube: Associação Desportiva e Cultural Aboim/Sabadim. E fui para lá. Foi a maior transferência, muito falada na altura: o médio centro Marco Rodrigues transfere-se do Atlético Valdevez para o ADECAS Futebol Clube!

Era um clube de aldeia, perto da freguesia onde eu vivia, e era Aboim/Sabadim porque o campo era dividido entre a freguesia de Aboim e a freguesia de Sabadim. Para não haver problemas eles escolheram este nome. Na primeira parte jogávamos por Aboim e na segunda por Sabadim. Mas mesmo! O campo era literalmente metade de um lado e metade do outro, a linha do meio-campo dividia as freguesias!

Sempre gostei muito de jogar, o futebol sempre foi uma paixão, a par da música, e fi-lo até aos 15 anos, altura em que vim para Lisboa. A partir daí a actividade desportiva passou a ser só o desporto escolar e, de vez em quando, com os amigos. Ainda hoje jogo todas as semanas. Mas sou apaixonado por futebol e conto esta história particularmente por causa dessa curiosidade. Era uma coisa que gostava mesmo de fazer. Além das poucas condições que tínhamos, sempre a jogar em pelados e na lama, havia aquela coisa de fazeres-te um homem e atirares-te num campo pelado e ficares com a perna toda rasgada. Fazia carrinhos a toda a hora! Ainda para mais nessa altura tinha excesso de peso e era daqueles jogadores que, como não tinha muita velocidade, e quer queiramos quer não a velocidade está aliada à técnica, dificilmente fazes uma finta em slow motion, sempre compensei com muita garra e vontade. Era um médio defensivo. Durante a minha carreira futebolística, oficialmente, devo ter marcado quatro ou cinco golos, em três ou quatro épocas. Marcava um golo por época, e quando marcava imagina a festa que fazia! Ficava extasiado. Corria mais para festejar o golo do que propriamente para marcá-lo!

Sempre fui aquele jogador que não se mexia muito, também porque o peso não o permitia, mas não tinha medo de ir à bola, de fazer um ombro a ombro ou um carrinho. Mais marcante até do que os golos, recordo-me de um jogo pelo Atlético, que tinha como rival o Guilhadeses, uma freguesia que ficava a dois quilómetros da vila. Efectivamente, por influência dos professores de Educação Física e porque a maioria dos miúdos com jeito para jogar à bola vivia ali perto, o clube tinha os putos mais talentosos e os melhores treinadores. Num desses jogos, há uma bola lançada do guarda-redes para um avançado, eu estava entre a defesa e o meio-campo da minha equipa, a bola bate à minha frente, passa por cima de mim e estava um avançado isolado que recebe a bola e começa a correr em direcção à baliza. E eu, com as forças todas que tinha, fui a correr, a correr, a correr, ele demorou um bocado a finalizar e consegui entrar de carrinho e tirar-lhe a bola. A reacção do público foi maior do que num golo! Perdemos 3-0, mas o que é certo é que aquele foi o momento do jogo. Ainda tenho na cabeça a imagem de ir a correr e a pensar “eu vou conseguir apanhar este gajo, ele não vai marcar golo”. Estava a dizer quatro golos em quatro épocas mas este corte contou como um golo… Cinco golos em quatro épocas!


Acaba de lançar o álbum Fados do fado, que homenageia os homens do fado e é o quarto trabalho da carreira. Durante a semana toca e canta na Adega Machado, em Lisboa, onde é director artístico. Facebooktwitterlinkedinmail

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5 comentários sobre “Marco Rodrigues

  1. Eu jogava no Guilhadezes e recordo-me tão bem quanto o Marco estes jogos. Na escola apesar de rivais falamos sobre isto até porque também íamos no mesmo autocarro (camioneta do Salvador ☺) para casa ele ficava na freguesia de Proselo e eu na de Aguiã.
    Nostalgia….

  2. Sou, Guilhadeses- Arcos de Valdevez, e ao ler está história senti-me grata pela transparência de emoções aqui demonstrada pelo Marco Rodrigues.
    Contínua a escrever desta forma, a onde as emoções e as saudades de Arcos de Valdevez são transparentes e sentidas.
    Parabéns

  3. Grande Marco tive o prazer de trabalha no conjunto do teu pai e de trabalhar contigo. O tempo volta para traz saudades. Abraço Marco deste teu amigo Libério

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