Há muitos, muitos anos, era eu jornalista de “A Bola” e por razões do serviço meti-me num táxi no Largo da Misericórdia e disse ao homem que ia volante:
– Boa tarde, leve-me ao Estádio de Alvalade, se faz favor.
O homem estremeceu. Senti-lhe o frémito. Arrancou e ainda no início da Rua das Taipas disse-me com a voz tomada pela emoção:
– É o Mário Jorge, não é?
O Mário Jorge era um jogador do Sporting, um rapaz moreno e de cabelo comprido e desgrenhado como o meu.
– Sou – respondi.
O taxista não voltou a abrir a boca até me deixar na Porta 10-A mas via-se que ia feliz. Não é todos os dias que se leva um Mário Jorge ao treino. Poderão perguntar-me como é que alguém pode dizer que uma outra pessoa está feliz só por lhe ver a nuca. Eu acredito que sim, que a observação atenta da parte posterior da cabeça de um homem nos diz muito sobre o seu estado de espírito. Esta é a história de uma boa ação que pratiquei abdicando de bom-grado de todas as minhas identidades. Nunca a contei ao Mário Jorge.
Notabilizou-se no jornal “A Bola”, passando depois por publicações como o “Público”, que ajudou a fundar e onde foi editora e grande repórter. Actualmente é cronista do “Correio da Manhã” e “Record”.
Não sei se foi verdade——. mas torna se mais verosímil sendo você filha do grande Grande Carlos. Esses sim eram tempos da Bola. Agora nem prima… Carlosferre