José Manuel Freitas

Estamos no final da época 1991/92. O Benfica estava já a negociar a contratação do treinador, infelizmente já falecido, Tomislav Ivic. Nessa altura eu era jornalista do Record e fui a Marselha para tentar conversar com ele, mas nem tudo correu bem porque estava eu a chegar a Marselha e ele a sair da cidade, não sei se para tratar de alguns assuntos relacionados com o Benfica. A verdade é que me descruzei com ele. O curioso desta história, que acabou por não ser com o Ivic, é que correu bem noutros aspectos.

Um dos episódios acontece no dia 25 de Abril de 1992. É a penúltima jornada do campeonato francês, o Marselha recebeu em casa o Cannes, ganhou por 2-0 e foi o último jogo do Jean-Pierre Papin, que marcou o primeiro golo. Nessa altura o Marselha tinha uma equipa fantástica. Entre outros, lembro-me bem do Sauzée, Boli, Amoros, Deschamps, Abedi Pelé, Chris Waddle e também do Carlos Mozer, que antes tinha jogado no Benfica e que regressaria aos encarnados. Esta história tem um pouco a ver com estes factos todos.

Estou longe de casa, último jogo do Papin em Marselha porque no ano seguinte iria para o AC Milan, onde esteve duas épocas. Só por curiosidade, nesse dia foi o jogo 178 do Papin e ao longo dos cinco anos em que esteve no Marselha marcou 184 golos. Era também a despedida do árbitro desse jogo, um senhor chamado Jean-Marie Véniel. Para entrar no estádio foi o cabo dos trabalhos, porque em vez de termos enviado a acreditação para o Sindicato dos jornalistas mandámos directamente para o Marselha e só consegui entrar depois de ter estado uma hora a namorar com um delegado sindical para me deixar entrar. Sem poder fazer nada com o Ivic, a minha única saída para a crise era tentar entrevistar o Carlos Mozer, que naquela altura não andava de muito boas relações com o Record. Então o que é que aconteceu, que foi o meu grande momento de sorte? A dez minutos do final do jogo, decidi descer as escadas da bancada de imprensa para a entrada do estádio, porque tinha a certeza absoluta de que estava lá o falecido empresário Manuel Barbosa, um dos poucos na altura. No momento em que vou a descer realmente aparece-me o Manuel Barbosa. Diz-me logo com um à vontade extraordinário: “como é que o desenrasco?” Tenho muitas saudades do senhor porque portou-se sempre impecavelmente comigo. Fui com ele e fomos logo para dentro do balneário do Marselha! Foi por isso que soube que era a despedida do árbitro, porque passado um bocado o Basile Boli apareceu todo vestido de preto com o equipamento do árbitro a dizer que foi uma oferta que este lhe tinha feito por ter sido o último jogo. E eu, nas imediações do balneário do Marselha, consegui convencer o Manuel Barbosa a convencer o Carlos Mozer para me dar uma entrevista, que acabei por conseguir. Foi mais uma lança em África no meio daquela confusão toda.

Só para terminar esta rocambolesca viagem a França: o treinador do Paris Saint-Germain era o Artur Jorge e tinham na equipa o Geraldão, que tinha estado no FC Porto, e os ex-benfiquistas Ricardo Gomes e Valdo. E eu, no dia seguinte a este jogo, no domingo, fui para Paris tentar fazer umas reportagens com o PSG. Aí ainda consegui entrevistar também o Artur Jorge e o Ricardo Gomes. Chego lá e o Record colocou-me num hotel, não vou dizer de vão de escada mas uma coisa assim parecida. A minha preocupação era como faria chegar o serviço a Portugal. Naquela altura ligávamos uma espécie de umas lagartas do computador ao telefone do quarto e enviávamos assim o serviço, só que o telefone era daqueles muito antigos e não dava. Como levava uma pequena impressora, a única hipótese que tinha era escrever no computador, imprimir, mas para enviar para Portugal é que foi o mais giro: tive de ir para a recepção do hotel e, ao mesmo tempo que entregava as chaves aos clientes que chegavam, como se fosse um empregado, ia metendo as folhas no fax!

É uma das histórias mais curiosas da minha carreira. Não consegui falar com o Ivic, mas falei com o Carlos Mozer, acabei por ver o ambiente do balneário do Marselha com esta história do Basile Boli e a grande despedida que os franceses fizeram ao Jean-Pierre Papin, e em Paris ainda aconteceu este episódio.


Jornalista há 40 anos, começou na extinta Equipa, destacou-se no Diário de Notícias e passou, nomeadamente, pelos três diários desportivos. Foi comentador da TVI, colunista do Mais Futebol e hoje trabalha na CM TV.
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3 comentários sobre “José Manuel Freitas

  1. Olá jose manuel,fomos amigos e colegas nos anos 80, no tempo do Roquelino.há dias casualmente vi te na tv…pq vivo no estrangeiro,mas agora estou cá. Contacta me pelo face,Isabel Amorim ,um abraço

  2. Isto foi tão, mas tão complicado de ler…Compreendi as palavras, mas o conteúdo…chiça!
    “Bom dia, José Manuel Feiras, estás bom?”
    “Epá estou, mas não. Porque em 76 uma vez respondi que sim e acabei a conduzir um mini. Já em Pequim, tinha uma uma namorada que era uma Indonésia anã, mas foi de vestido vermelho. Está-me a apetece ruma coca cola, mas amanhã é terça feira…”

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