Guilherme Duarte

O ano era o de 1999, tinha eu 15 anos. Nunca fui muito de ir ao estádio, acho que se contam pelos dedos das mãos as vezes que me sentei nas bancadas dos estádios do Sporting. Sempre achei que ver futebol sem repetições era parvoíce, porque assim não me posso queixar dos árbitros com propriedade. Desta vez lá fui, com o meu pai, assistir à 10ª jornada do campeonato nacional, ver os leões contra os galgos, ou seja lá qual for aquele bicho no símbolo do Campomaiorense. O estádio estava composto e o tempo era amigo de quem quer ir a um estádio descoberto ver a bola. Não me lembro em que lugar estava o Sporting nessa altura, mas sei que o jogo foi lastimável. Imensas perdas de bola, passes desacertados, enfim, era o mesmo ao que o Sporting nos tinha habituado nos últimos 18 anos. Parecia um jogo de divorciados contra viúvos, já que o adversário também não dava uma para a caixa.
Os adeptos começavam a ficar impacientes e iniciaram aquele ritual tão português que é o de assobiar os jogadores da própria equipa. Quem diz assobiar diz também chamar-lhes nomes, a eles é às suas respectivas progenitoras. O principal alvo era o Vidigal, esse monstro do meio-campo mas que tinha alguns problemas ao nível da técnica. Era uma besta, varria tudo mas, por vezes, acertava mais na relva do que na bola. Ainda se fosse a ceifar os jogadores, tinha alguma utilidade. Nesta época tinha-lhe sido dado mais espaço e lembro-me de o ver a fazer sprints box-to-box, com a bola colada ao pé, para depois a perder algures e deixar a equipa descompensada. Este jogo foi mais um desses e lembro-me das pessoas que estavam sentadas ao meu lado a gritar “Vai para casa!”, “Vidigal és um cepo!”, “Havias de tropeçar e partir era o caralho!”, entre outros mimos. Depois de sucessivas perda de bola, e já estando a aproximar-se o fim do jogo, cada vez que ele tocava no esférico havia uma enorme assobiadela de todo o estádio. Eu e o meu pai abanávamos a cabeça, como quem não concorda com aquele tipo de “apoio” à equipa. Entre insultos e mais insultos, pautados por assobios e “buuhhhhs”, houve um canto. O minuto era o 84, a bola é centrada para o meio da área e é golo do Sporting!!! É golo de Vidigal!!! Os adeptos ao rubro começaram a gritar “Vi-di-gal! Vi-di-gal!” em plenos pulmões e foi o dia em que deixei de gostar um bocadinho mais de ir ao estádio e aturar este tipo de anormais. Se eu fosse o Vidigal, tinha-me virado para o público e feito uns piretes. Ele não fez, é melhor pessoa que eu.
O Sporting ganhou o campeonato esse ano e o Vidigal foi um dos heróis, mas só durante aqueles trinta segundos contra o Campomaiorense.


Tem trinta anos, chega da Buraca e, das muitas coisas interessantes que faz, destaca-se o blog Por Falar Noutra Coisa, eleito o melhor de 2016 pela Media Capital. Facebooktwitterlinkedinmail

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