Guilherme Cabral

Há uns meses fui ver o Benfica-Galatasaray com um colega meu. Nessa altura já não me convinha ir sozinho aos jogos, tinha de andar sempre acompanhado por estar a ser seguido no cardiologista devido a uns pequenos problemas de saúde. Também já tinha tomado um calmante e sempre que tomo essas porcarias não convém conduzir, como é óbvio. Então o Edhy levou o carro. Ele saiu do trabalho às 19h e o jogo era às 19h45. Obviamente, íamos apanhar o trânsito da malta que vai à última hora e da malta que está a chegar a casa do trabalho, que é ainda a maior parte.
A dada altura vimos que estávamos numa grande fila, para ir dar à Segunda Circular, e ele, à campeão, mete os quatro piscas, mete-se na berma e vai por ali fora. E eu a rir-me e a achar aquilo buéda louco. Às tantas começámos a ver polícia à frente para fazer a circulação do trânsito. Normalmente em dias de jogos há sempre ali polícia, mas ele não se lembrou. Nisto, o Edhy vira-se para mim:
– Estamos lixados… Faz-te de atrasado mental!
E eu:
– Hã?
Diz-me ele:
– Inventa qualquer coisa! Faz-te de atrasado, qualquer coisa… Espuma-te da boca! Diz que te dói o coração… Epá, qualquer coisa!
Começo a agarrar-me ao peito e o senhor guarda manda-nos parar.
– Boa tarde. Então, para onde é que o senhor ia?
E o Edhy:
– Vou para o hospital, aqui o meu colega está a sentir-se mal. Ele tem problemas de coração.
Ao que o polícia respondeu:
– Ah, e está com a camisola do Benfica…
E ele:
– Pois! Íamos ver o Benfica e já não vou ver o jogo porque ele não se está a sentir bem.
Ainda me chamou teimoso e a dar-me nas orelhas para aquilo ser convincente. Entretanto o polícia diz para não nos preocuparmos e chama um colega. Ficámos naquela de ver o que ia acontecer. O colega pega na mota e ele diz-nos:
– Vão atrás daquele senhor.
Ou seja, fomos escoltados. Seguimos pela berma, passado um bocado já estava tudo a andar normalmente mas ele continuou connosco. E eu a gabar-me:
– Estás a ver como eu sou o maior? Escoltados até à Luz como o Presidente da República!
Lá fomos nós e o gajo deixa-nos mesmo no Hospital da Luz. Entro ali nas urgências, o Edhy deixa o carro não sei onde e entra também e ficámos lá meia-hora à espera e a pensar se o polícia já se tinha ido embora ou não. Ainda me lembro de ele ir três vezes fingir que ia fumar para ver se ainda lá estava o polícia. Depois, já sabes como é em dias de jogos: há polícia por todo o lado.
Bem, acabámos por ir para o estádio a pé, não perdemos quase nada do jogo, vimos praticamente desde o início. Perdemos o hino e lembro-me que isso o chateou porque é das partes que o pessoal quando vê jogos da Liga dos Campeões gosta mais de ouvir. Esse e o hino do Benfica, claro.
Até que no golo do Luisão aquilo foi uma tensão muito grande da minha parte, também pelo acumular de muito trabalho que andávamos a ter, até com o Jel, com o filme do Match Day, estávamos também a fazer o documentário dos The Gift, eram já muitas noites sem dormir. Além do meu histórico de problemas cardíacos, não me podia exaltar. Mas no golo do Luisão senti o que os médicos dizem que foi um colapso, um pico de ansiedade e de tensão. Apaguei durante um tempinho, fiquei ali com uma dor no peito enorme e onde é que acabei? No Hospital da Luz!
Depois acabou por ficar tudo bem. Ainda hoje estou a ser seguido, mas pelo menos já sabemos o que é. E agora vou para o estádio mais cedo porque não há dois dias iguais.


Realizador de cinema, é responsável pelo filme Match Day – Dia de Jogo, pelo documentário dos 20 anos de carreira dos The Gift e colabora com o marketing do Benfica desde os 14 anos. Facebooktwitterlinkedinmail

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4 comentários sobre “Guilherme Cabral

  1. Karma , da próxima vez vai de metro. “Achas bué louco” e ” à campeão” ser chico esperto, guia a tua vida assim infeliz.

  2. Os videos deste senhor puxam sempre a lagrima ao canto do olho, a pela de galinha o desejo de estar no estadio. Nunca mais é agosto.

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