Dani

Quando cheguei a Amesterdão, o Van Gaal disse-me que tinha de me habituar à forma de treinar e de jogar do Ajax. Ter outra atenção à posse, perder o mínimo possível a bola e fazer uma circulação com outra qualidade, com mais velocidade, e um ou dois toques, recepção orientada e depois passe. Respondi-lhe: “Vocês contrataram-me depois do que viram no Mundial do Qatar, pelas minhas jogadas individuais e tal” e ele “sim, mas tens uma forma de jogar com muito risco e nós não queremos perder a bola. E se em três jogadas individuais perderes a bola uma ou duas vezes estás a pôr em risco todo o equilíbrio da equipa”. Isso era o mais importante e tive de habituar-me àquilo.

Nos primeiros treinos tive alguma dificuldade com o passe e a recepção. Pensava que tinha técnica, mas eles faziam aquilo com tanta velocidade que a bola batia-me e fugia! Mas lá me comecei a habituar àquele ritmo. Tinha feito um jogo completo com o Twente, no final de Setembro, depois joguei uns minutos noutro jogo, e senti que estava a entrar na equipa. Até que um dia faço um jogo pela segunda equipa e no final o treinador adjunto disse-me para me juntar à equipa principal, que estava a preparar-se para a Liga dos Campeões.

Segui logo para estágio e pensava que ia para um hotel de 5 estrelas, onde normalmente ficam as equipas, mas não, ficámos numa pensão só para nós. Não tínhamos chave nos quartos, que eram individuais, mas aquilo era nosso, estávamos mesmo em casa. No dia seguinte treinámos de manhã, na praia. Um frio incrível, isto foi em Outubro, mas fizemos um treino na praia só para desentorpecer, a jogar à bola com a mão e tal. À tarde lá fizemos um treino prático e à noite o Van Gaal entrou no meu quarto e disse-me “amanhã vais jogar a titular.” Era contra o Glasgow Rangers do Gascoigne, que já me conhecia por ter jogado em Inglaterra, no West Ham. Perguntei ao Van Gaal “então não me ia meter a jogar só daqui a uns meses?” e ele “não, vais ser titular. Pus o Kluivert a titular com 17 anos, o Seedorf com 16, o Davids e este e aquele”.

Explicou-me as movimentações que queria para o jogo: o número 10, o segundo ponta-de-lança do Ajax, também entrava dentro da área. O ponta-de-lança fazia um movimento e ele outro, mas eu costumava ficar fora da área para aproveitar os ressaltos e rematar. E ele pediu-me para entrar na área, porque tinha de compensar os movimentos do ponta-de-lança e estar lá para os cruzamentos. Tínhamos alas muito rápidos, o Babangida na direita e o Overmars na esquerda. E perguntei-lhe: “mas eu? De cabeça?”. Ele só me disse “sim, não te preocupes. Faz os movimentos e vais ver. Não fiques fora da área”.

Bom, chegamos ao jogo, estava um bocado nervoso, vou para aquecer, e quando regresso ao balneário, uns minutos antes de entrar em campo, olho para a camisola e em vez de estar Dani estava Carvalho. Pedi uma explicação para aquilo e o Van Gaal disse-me que punham sempre o último nome. Era R. De Boer, D. Blind, M. Overmars… E eu “epá, mas era Dani e tal”. Ou seja, quando entrei em campo ninguém sabia quem eu era! Resultado: na primeira parte tinha marcado dois golos de cabeça e feito um remate à trave, quase que fazia um hat-trick. Ao intervalo, o Van Gaal disse-me: “Continua a jogar assim dessa forma porque se começares a inventar, a fintar e não sei quê, eu tiro-te”. E pronto, aí aos 70 minutos fiz duas fintas seguidas e ele passado um bocadinho tirou-me.


Após quatro épocas na Holanda, teve uma curta passagem pelo Benfica de José Mourinho. Seguiu-se o Atlético Madrid, que ajudou a regressar à I Divisão, onde terminou a carreira. Facebooktwitterlinkedinmail

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14 comentários sobre “Dani

  1. Coitado?
    Sporting, Ajax, Atl. Madrid, Seleção…
    Coitado é de mim que não tive um décimo da qualidade dele.
    E de ti, por esse comentário carregado de ciúmes .

  2. Ele nunca devia ter seguido a carreira de jogador, isso é pra quem tem cabeça, coisa que o Dani nunca teve, acho que ele teria sucesso se fosse ator ou modelo, coitado escolheu a profissão errada, E quando isso acontece sempre acaba mal.

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