Cláudia Lopes

Por que é que vou contar uma história da Selecção? Desde que comecei no desporto, em 1998, que a Selecção é aquilo que mais mexe comigo e que mais me faz vibrar. E mexeu comigo de uma forma muito particular no Campeonato da Europa de 2012 porque estamos habituados a ver uma grande massa de adeptos emigrantes, vimos isso em França, na Alemanha, na Suíça, na Holanda, mas na Ucrânia e na Polónia não via ninguém. Há muitos intelectuais de sanita que se chocam quando nós, jornalistas, vibramos com a Selecção, o que para mim é uma idiotice tremenda, porque é o meu país. Desculpem lá, vou vibrar com o meu país! Para mim, a Selecção é o meu país e a minha bandeira, é o meu hino, e eu, mais do que gostar de futebol, gosto do meu país. E odeio quando chego a um lado qualquer e as pessoas não sabem onde é Portugal. Isso aborrece-me mesmo. Tenho uma grande ligação ao país e acho que o futebol faz parte da nossa identidade e hoje é a nossa maior bandeira no exterior.
Portanto, no Campeonato da Europa, há quatro anos, era desolador não termos ninguém nas bancadas e encarnei muito o espírito daquela Selecção. Mais ainda pela proximidade com todos aqueles miúdos que vimos crescer, acompanhamos as carreiras, não escondo uma admiração que tenho pelo Paulo Bento, todo aquele momento, também do ponto de vista pessoal, era feliz e desenvolvi uma ligação de proximidade muito grande àquele grupo de trabalho. Isto para levar à história que chorei baba e ranho nos penáltis nas meias-finais. Mas um chorar de caírem as lágrimas pela cara abaixo! Quando foi o último penálti e a Espanha começa a comemorar tive aquela reacção de criança: “não, isto não acabou. Ainda temos mais um para marcar.” Negação completa da realidade! E ao mesmo tempo começam a correr-me as lágrimas pela cara abaixo. Ao meu lado estava um jornalista do Mundo Deportivo e achei que lhe iam saltar os dentinhos naquele dia. O que é que ele fez? Começou a gozar! Ok, ele tinha acabado de se apurar para a final, no lugar dele também estaria ali a fazer uma dança, mas naquele dia não estava com disposição para brincar. E eu que sou uma pessoa que tenho algum sentido de humor, hã! Eu estava em lágrimas, não me conseguia conter de chorar, e o espanhol começa-me a gozar! A sorte dele foi ser catalão, tenho uma costela de barcelonista que tenho de assumir, foi a sorte dele para naquele dia não apanhar na tromba no Estádio do Shakhtar. Eu queria espancá-lo até à morte! Encarnei num espírito completo de índio e queria espancar o catalão. E tive de me recompor para ir à sala de imprensa fazer perguntas e não irmos chorar todos em uníssono.
Se me dizes assim: olhas reflectidamente para o jogo e nós merecíamos aquela final? Depende. Acho que nunca na vida vou perdoar aquele minuto 92 ao Cristiano Ronaldo. Ele pode ganhar as Bolas de ouro que quiser e ser o melhor jogador da Europa as vezes que quiser, mas nunca lhe vou perdoar aquele minuto 92. Se ele marcasse aquele golo tínhamos ido à final com a Itália e limpávamos aquela Itália. Hoje podíamos ser bicampeões europeus! Depois acho que os espanhóis foram claramente melhores do que nós no prolongamento e os penáltis são aquela frase feita, mas são, de facto, uma lotaria. E eu odeio penáltis portanto, quatro anos depois, quando chegámos a esta final tudo o que eu não queria era penáltis. Tenho um trauma com penáltis depois de 2012, uma pessoa não pode chorar numa bancada de imprensa. Depois tens aquele estigma: “ah, é gaja. Vês porque é que nós não queremos gajas no meio do futebol? Elas choram, são umas mariquinhas.” Não é verdade! Eu senti dor, ok? Estava profundamente convicta de que íamos à final.
E já tinha posto o Miguel Veloso a chorar nesse Campeonato da Europa numa super flash. Nesse Campeonato da Europa os jogos foram tripartidos entre a RTP, nós [TVI] e a SIC, e nós transmitimos o Portugal-Holanda. Quando ele chega ao pé de mim, para fazer a flash em directo do relvado, já vem assim com uma lágrima no olho e eu, confesso, apertei um bocadinho e, pumba, lá fiz o Miguel Veloso verter uma lágrima. Foi um Campeonato da Europa muito choramingas. Claramente, demasiado choramingas.
Só para rematar, tenho outra história que tem tudo a ver com lágrimas, festejos e Selecção. Quando o Eder marcou o golo na final do Campeonato da Europa já não eram horas de o meu filho estar a pé. A minha criança, que na altura tinha 21 meses, estava a dormir. Portanto o meu festejo no golo do Eder, embora muito efusivo do ponto de vista físico, foi feito em silêncio. Eu e o meu marido festejámos aos pulos mas em silêncio dentro de casa porque o puto já estava a dormir. Foi a esquizofrenia total! Nós éramos campeões da Europa e eu festejei em silêncio. De repente começa toda a gente a buzinar no meio da rua e tu pensas: “esquece, porque é que estou para aqui sem fazer barulho?” Os dois aos pulos dentro de casa em grande euforia mas parecia um filme mudo. Devemos ser as únicas pessoas no Mundo que comemoraram um Campeonato da Europa em silêncio abraçados um ao outro. São as figuras que a Selecção Nacional me fazem fazer. É das coisas que mais me faz vibrar no futebol. O hino, para mim, continua a ser um momento muito especial.


Trabalha na área do desporto desde 1998, quando entrou para a redacção da RTP. Dez anos depois saiu para a TVI24, onde é uma das caras do canal e apresenta semanalmente o programa Maisfutebol. Facebooktwitterlinkedinmail

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5 comentários sobre “Cláudia Lopes

  1. O meu puto também já estava a dormir, em casa fomos 4 a festejar apenas fisicamente, mas em silêncio completo! 🙂

  2. Grande admiração tenho pela Cláudia Lopes, o estilo informal e as sonoras gargalhadas no programa Mais Futebol fazem-no um dos melhores programas desportivos da nossa Televisão…

  3. fico admirado / triste quando ouço alguém com tempo de antena nos canais televisivos a dizer ” …Eu sou sócio do…, não da Selecção…”. PARABÉNS Cláudia Lopes.

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